;A liberdade em marcha. Demonstração colossal da força cívica dos catalães. Esse é o caminho negado pelo Estado e por seus aliados, e, portanto, o qual não devemos abandonar;, escreveu no Twitter o ex-presidente da Catalunha Carles Puigdemont, refugiado na Bélgica. A violência provocou o adiamento do clássico entre Barcelona e Real Madrid pela 10; rodada do Campeonato Espanhol de futebol, marcado anteriormente para 26 de outubro. Uma nova data será anunciada na próxima segunda-feira. A Basílica da Sagrada Família, o local turístico mais visitado de Barcelona, fechou suas portas, e a ;pera do Liceu cancelou a programação. O mercado Boqueria, também famoso entre os turistas, não funcionou nesta sexta-feira (18/10). Além de bloqueios em várias estradas da Catalunha, o Aeroporto Josep Tarradellas Barcelona-El Prat registrou o cancelamento de 57 voos.
Antes dos conflitos, o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, assegurou nesta sexta-feira (18/10) que o Estado possui todos os mecanismos para garantir a legalidade democrática e a convivência na Catalunha. ;Não haverá impunidade ante os atos violentos. Garantiremos e protegeremos o exercício do direito à manifestação, expressão da fortaleza de nossa democracia;, declarou. Horas mais tarde, Fernando Grande-Marlaska, ministro do Interior espanhol em exercício, lembrou que os cidadãos puderam exercer o direito à greve e à manifestação ;em plena liberdade;. ;Aqueles que vulneram as liberdades democráticas se encontraram, e se encontrarão, com o exercício proporcional, porém contundente, da lei e expressado por meio das forças de segurança do Estado;, advertiu. ;Vamos aplicar ao independentismo violento o Código Penal com toda a contundência.; Desde o início da semana, 110 pessoas foram presas e 200 policiais ficaram feridos.
Secessionismo
Cesáreo Rodríguez-Aguilera, cientista político da Universidade de Barcelona, afirmou ao Correio acreditar que a Catalunha assiste ao fim do secessionismo unilateral. ;Teremos de ver como se resolve a disputaentre Puigdemont e o atual vice-presidente catalão, Oriol Junqueras, nas próximas eleições (gerais em novembro e catalãs em 2020). O independentismo tem de assumir que, à margem da lei, não há a menor possibilidade de sucesso;, disse. Ele defende que, a longo prazo, haja uma costura de novo acordo que amplie o autogoverno territorial. ;Isso não poderá ser feito sem absoluta lealdade de todas as lideranças. As grandes mobilizações desta semana se devem à emoção por conta dos presos e à ira pela sentença.; Apesar de reconhecer o risco de radicalização, Cesáreo explica que tal possibilidade conta com o rechaço da imensa maioria dos catalães. ;O que sinto falta é de uma força mais contundente do independentismo pacífico capaz de desmarcar desses setores fanatizados minoritários.;Autor de O movimento nacional escocês e Curdistão, o povo do sol, o escritor catalão Jordi Vàzquez disse à reportagem que a Espanha não demonstra intenção de negociar. ;Se não quer dialogar com alguém que tenha muito apoio popular, o que você faz? Usa a violência para esmagar os protestos;, comentou, em alusão a Madri. ;Qualquer diferença política não pode ser resolvida com violência. A Espanha somente respondeu com ódio contra a minoria catalã. A Catalunha leva 12 anos reagindo a esse ódio com sorrisos e pedido de diálogo;, acrescentou o morador de Barcelona, para quem a solução seria novo referendo sobre a autodeterminação catalã.
A crise separatista em datas
A cronologia dos principais acontecimentos relacionados à luta pela independência na região a partir de setembro de 2017.Tentativa de secessão
6 de setembro de 2017
Os deputados separatistas votam no Parlamento regional uma lei para organizar um referendo de autodeterminação em 1; de outubro, apesar dos protestos da oposição, que os acusa de violar a Constituição espanhola e o Estatuto da Catalunha.
1; de outubro de 2017
Forças de segurança de Madri intervêm para apreender as urnas do referendo, proibido pela Justiça. O governo separatista anuncia a vitória do ;sim; com 90% dos votos e 43% de participação, embora os dados não sejam verificáveis.
3 de outubro de 2017
O rei Felipe VI pede o restabelecimento da ordem constitucional após greve geral na Catalunha acompanhada de várias manifestações
contra a violência policial.
27 de outubro de 2017
Os deputados separatistas aprovam declaração unilateral de independência. Madri suspende a autonomia regional, destitui o governo dirigido por Carles Puigdemont, dissolve o Parlamento e convoca novas eleições.
Diálogo fracassado
21 de dezembro de 2017
Os partidos que defendem a independência, com candidatos presos ou exilados, novamente conquistam a maioria absoluta, com 70 deputados em 135.
2 de junho de 2018
Um novo governo catalão, liderado pelo separatista Quim Torra, toma posse e a Catalunha recupera a autonomia. No mesmo dia, o socialista Pedro Sánchez assume como premiê espanhol, excluindo um referendo de autodeterminação.
9 de julho de 2018
Pedro Sánchez inicia diálogo com Torra em Madri.
9 de outubro de 2018
Os separatistas perdem a maioria no Parlamento catalão depois de Puigdemont e seus seguidores recusarem substituir quatro deputados suspensos pela Justiça.
12 de fevereiro de 2019
No Supremo Tribunal começa o julgamento de 12 líderes separatistas, incluindo o ex-número dois de Puigdemont, Oriol Junqueras, pela tentativa de secessão.
Condenação e tensão
14 de outubro de 2019
O Supremo condena nove dos 12 líderes separatistas a penas de 9 a 13 anos de prisão. Sánchez pede a abertura de novo capítulo sobre o assunto tendo como base o diálogo, mas a sentença atiça os que desejam independência na região, que vão às ruas para protestar. Manifestantes bloqueiam o aeroporto de Barcelona.
15 de outubro de 2019 e dias seguintes
Cenas de guerrilha urbana, com barricadas em chamas e confrontos entre manifestantes com o rosto escondido e os agentes de segurança são registradas em Barcelona e outras cidades da Catalunha.