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Entre diálogo e protesto

Presidente Lenín Moreno inicia negociação com indígenas para amenizar violência que assola o país há duas semanas. Manifestantes seguem nas ruas mesmo após adoção de toque de recolher


O governo do Equador e lideranças indígenas abriram o diálogo em busca de uma solução para a violenta crise deflagrada no país há 13 dias. Intermediados pelas Nações Unidas e pela Igreja Católica, o presidente Lenín Moreno e a cúpula da Comissão Política da Confederação de Nacionalidades Indígenas (Conaie) sentaram-se à mesa, ;confiantes na boa vontade de todos para estabelecer um diálogo de boa-fé e encontrar uma solução rápida para a complexa situação que o país vive;, segundo comunicado divulgado em conjunto. O encontro, em Quito, foi transmitido pela TV estatal.

Os indígenas garantem que ficarão na capital até conseguirem um acordo. Eles defendem a revogação, ou revisão, do decreto que encerrou um subsídio aos combustíveis de mais de 40 anos, aumentando os preços em até 123%. A medida faz parte de um acordo firmado com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para um empréstimo de US$ 4,2 bilhões que visa aliviar o deficit fiscal. Resultou, porém, na maior crise enfrentada por Moreno desde que assumiu a Presidência, em maio do ano passado.

Em sua primeira intervenção, o presidente se mostrou aberto a revisar o decreto que eliminou os subsídios. ;Nunca foi minha intenção afetar os setores mais carentes;, disse Moreno. O líder da Conaie, Jaime Vargas, insistiu na invalidação da medida que, segundo ele, ;provocou convulsão social;. Vargas também pediu a destituição ;imediata; dos ministros do Governo (Interior), Maria Paula Romo, e da Defesa, Oswaldo Jarrín, pela ;violência desmedida; usada contra os manifestantes.

Desde que as manifestações começaram, foram registrados sete mortos, 1.340 feridos e 1.152 detidos, segundo o balanço mais recente da Defensoria do Povo. A onda de violência levou o governo a decretar, no sábado, toque de recolher em Quito. Ainda assim, ontem, dezenas de pessoas voltaram às ruas para protestar. Em alguns pontos, a polícia usou bombas de gás lacrimogênio para conter os manifestantes, mas não houve registros de confrontos tão violentos quanto os de sábado.

Apoio dos vizinhos

Em nota, o Fórum para o Progresso da América do Sul (Prosul) condenou a violência no Equador e pediu a ambos os lados que encontrem uma solução pacífica. ;Condenamos os atos de violência e as tentativas de desestabilizar o país, sua institucionalidade e o processo democrático equatoriano;, diz a declaração assinada pelos presidentes de Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai e Peru.

Os países do Mercosul ; Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai ; também condenaram os atos de violência e ;saudaram a disposição do governo do Equador e de setores representativos da sociedade equatoriana de iniciar diálogo com vistas à normalização da ordem no país.;

Produção afetada
Os indígenas, que representam 25% dos 17,3 milhões de equatorianos, trabalham sobretudo no campo e foram diretamente impactados pela medida. Com a libertação nos preços dos combustíveis, eles precisam pagar mais para transportar seus produtos ao mesmo tempo em que temem uma inflação generalizada. Além do fim dos subsídios, as medidas preveem cortar direitos de funcionários públicos.