O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, descartou a ideia de ceder ao que chamou de ;ameaças; dos Estados Unidos e manteve pelo terceiro dia a ofensiva militar no norte da Síria contra as milícias de minoria étnica curda, numerosa do lado turco da fronteira. Donald Trump autorizou a imposição de sanções contra o governo de Ancara, mas ainda não determinou que elas entrem em vigor. Bombardeios incessantes sobre cidades e aldeias curdas continuaram a provocar a fuga em massa de civis ; até ontem, a estimativa era de que 100 mil tinham deixado suas casas para fugir dos combates.
;O presidente tem a intenção de firmar um decreto para dissuadir a Turquia de prosseguir a ofensiva militar no nordeste da Síria;, disse o secretário americano do Tesouro, Steven Mnuchin. Depois de ordenar a retirada de forças dos EUA que mantinham presença na região, no início da semana, Trump advertiu Erdogan a não ;passar dos limites; em sua operação, sob pena de ver a economia de seu país ;arrasada;. Ontem, o secretário de Defesa, Mark Esper, alertou sobre ;graves consequências;, caso a Turquia não interrompa a ofensiva, mas admitiu: ;Não tenho indicação de que eles queiram parar;.
;Não importa o que digam, não vamos parar;, confirmou o próprio Erdogan, em discurso para simpatizantes em Istambul, a principal cidade e capital econômica do país. ;Recebemos ameaças à direita e à esquerda, mas não vamos retroceder;, prometeu. ;Continuaremos essa luta até que todos os terroristas se movam para o sul.;
O objetivo declarado da operação é estabelecer uma ;zona de segurança; de 32km do lado sírio da fronteira, sem a presença dos combatentes curdos, a quem o governo de Ancara acusa de favorecerem ações de separatistas em território turco. As milícias da minoria étnica, presente também no Iraque e no Irã, foram importantes aliadas dos EUA no enfrentamento do Estado Islâmico e hoje mantêm sob sua guarda milhares de jihadistas presos. Em resposta à retirada das tropas americanas, os líderes curdos acusaram Trump de aplicar ;uma punhalada nas nossas costas;.
Com os combatentes empenhados em responder à incursão turca, foram noticiadas uma fuga de jihadistas de um campo de detenção e um motim em um acampamento onde estão alojados os seus familiares. O Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), que monitora o conflito no país, contabilizava até ontem a morte de 54 milicianos e 17 civis desde o início da operação. O governo turco contirmou a perda de quatro soldados.