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Fujimorismo sofre sem os Fujimori


Com eleições convocadas para janeiro de 2020 pelo presidente Martín Vizcarra, a principal força política do Congresso peruano se vê diante do risco concreto de perder não apenas a maioria, mas até a posição de fator determinante na condução do país. O fujimorismo navega o torvelinho da crise órfão de suas duas figuras centrais: o ex-presidente Alberto Fujimori e a filha Keiko, derrotada na última eleição presidencial, estão ambos na prisão.

Aos 81 anos, o patriarca cumpre condenação por crimes contra a humanidade cometidos sob o seu governo, entre 1990 e 2000. Keiko, 44, que foi senadora liderou o partido na campanha de 2016, está desde o ano passao em prisão preventiva. Ela está entre os políticos acusados de terem recebido propinas da empreiteira brasileira Odebrecht, no âmbito de uma investigação que foi batizada pela imprensa de ;Lava-Jato peruana;.

;O fujimorismo está totalmente enfraquecido com o fechamento do Congresso pelo presidente Vizcarra;, diz o analista Luis Benavente. ;A situação do partido é de crise total.; Fernando Rospigliosi endossa a avaliação. ;O fujimorismo tornou-se uma corrente política muito fraca. Embora eles ainda tenham o controle do Congresso, estão em situação crítica desde o ano passado.;

Mistura de liberalismo na economia, conservadorismo nos costumes socais e pitadas de autoritarismo na frente política, o partido Força Popular construiu sua posição dominante à sombra do legado do ex-presidente. Eleito como estreante na política, com o país nas cordas pelo avanço da guerrilha comunista do Sendero Luminoso, Fujimori deu um golpe de Estado, fechou o Congresso e impôs estado de emergência. Derrotou os rebeldes e recuperou a economia, mas renunciou e exilou-se no Japão para não ser preso por comprar votos de congressistas para que lhe permitissem disputar o terceiro mandato.

Herdeira política, Keiko protagonizou no fim de 2017 um racha no partido, ao encabeçar uma cruzada pela destituição de Kuczynski. Conseguiu derrubá-lo em março de 2018, mas ao preço de se indispor com o irmão Kenji e um grupo de integrantes da bancada. Da prisão, não poderá comandar a legenda na disputa de janeiro. ;Eleitoralmente, não acredito que o fujimorismo se recupere em 2020 ou 2021;, arrisca Rospigliosi. ;Não creio que vá desaparecer, mas vai diminuir muito após a eleição de 26 de janeiro;, concorda Benavente.