O Irã ameaçou ontem ;uma guerra total;, caso seja alvo de retaliação militar dos Estados Unidos ou da Arábia Saudita. Os norte-americanos recuaram na retórica belicista e garantiram que preferem uma ;solução pacífica; em meio à tensão provocada pelos ataques com mísseis e drones contra duas das principais instalações petrolíferas de Riad. Os bombardeios reduziram em 5% o suprimento mundial de petróleo.
Em entrevista à rede de TV CNN, Mohamad Javad Zarif, ministro das Relações Exteriores do Irã, advertiu que uma resposta armada dos americanos ou dos sauditas ;causaria muitas baixas;. ;Eu faço uma declaração muito séria sobre a defesa do nosso país. Faço uma declaração muito séria de que não queremos nos engajar em um confronto militar. (;) Mas não trememos quando se trata de defender nosso território. (;) Acho que é importante para o governo saudita entender o que eles tentam alcançar. Eles querem lutar contra o Irã até o último soldado americano? É esse o objetivo deles?;, questionou Zarif.
Em Abu Dhabi (Emirados Árabes Unidos), última escala de sua visita ao Oriente Médio, o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, declarou que sua viagem à região busca ;construir uma coalizão destinada a obter a paz e uma solução pacífica;. O chefe da diplomacia norte-americana admitiu a existência de ;consenso; sobre a responsabilidade iraniana nos ataques às refinarias de Abqaiq e de Khurais, mas afirmou desejar uma saída pacífica.
;Não acho que qualquer dos países envolvidos nessa situação deseja uma guerra. Os radicais iranianos não têm feito muito para começar um conflito, mas para mostrar que precisam ser levados a sério, como forma de forçar o Ocidente à negociação;, afirmou ao Correio Bernard Hudson, especialista em temas de segurança do Golfo Pérsico na Universidade de Harvard. Segundo ele, o fato de os ataques à infraestrutura petrolífera da Arábia Saudita não terem deixado mortos reduz a pressão sobre os países ocidentais no sentido de responderem com ataques militares. ;No entanto, não há dúvida de que eventos como esse demonstram o quão perigosa é a situação no Golfo Pérsico. Outro incidente similar poderia desencadear uma terrível sucessão de eventos;, advertiu.
Riscos
Para Ali Vaez, diretor de Projetos do Irã do International Crisis Group (ICG), Pompeo prefere utilizar a força militar contra o Irã, mas está consciente de que não pode contradizer o presidente Donald Trump. Isso porque o magnata republicano acabou de demitir o conselheiro de Segurança Nacional, John Bolton, por tentar instigar Trump a um conflito com o Irã. ;A realidade é que uma guerra com o Irã, ainda que limitada, é fácil de começar, mas muito difícil de conter ou de terminar;, explicou à reportagem.
Vaez acredita que os iranianos precisarão retaliar qualquer ataque contra seu território para impedir novas ofensivas militares. ;Um confronto entre EUA e Irã pode incendiar todo o Oriente Médio, pois Teerã provavelmente ampliaria o conflito usando aliados em toda a região.; Segundo ele, uma guerra poderia condenar a reeleição de Trump.
Especialista do Instituto de Estudos Internacionais Middlebury (em Monterey, Califórnia), Fabian Hinz comentou que os iranianos operam sob a suposição de que Trump realmente não deseja uma grande guerra, a qual colocaria em risco sua reeleição. ;Os iranianos creem ser possível escalar o conflito para alavancar o poder de barganha sem temer um confronto com os EUA. Penso que Trump queira ficar fora disso;, afirmou ao Correio. ;Teerã e Washington lançaram um ao outro contra a parede. Trump impôs sanções extremas, que embargaram as exportações de petróleo iranianas. Se o Irã concordar com as negociações e com mais limitações de suas atividades nucleares e de mísseis, em troca do alívio das sanções, terá de capitular;, explicou.
"Acho que é importante para o governo saudita entender o que eles tentam alcançar.
Eles querem lutar contra o Irã até o último soldado americano? É esse o objetivo deles?;
Mohamad Javad Zarif, ministro das Relações Exteriores do Irã
Eu acho...
O Irã tem se engajado em um comportamento regional agressivo em relação aos vizinhos, especialmente os sauditas. A causa declarada para isso é a guerra no Iêmen, na qual o Irã apoia os rebeldes xiitas. Em relação ao ataque contra a infraestrutura petrolífera saudita, é extremamente improvável que os rebeldes huthis possam tê-lo feito por conta própria. O ponto mais próximo no Iêmen para lançar um ataque contra essa região da Arábia Saudita equivaleria à distância entre Rio de Janeiro e Brasília.
É muito mais provável que o ataque tenha sido lançado do Golfo Pérsico,
o que tende a implicar o Irã.;
Bernard Hudson, especialista em temas de segurança do Golfo Pérsico na Universidade de Harvard