Apoiados pelo Irã e há cinco anos em confronto com a coalizão militar liderada por Riad, os rebeldes huthis xiitas do Iêmen assumiram a autoria dos ataques contra instalações da gigante estatal Aramco.
Ontem, o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, acusou o Irã de envolvimento com o episódio. Segundo ele, não há qualquer prova de que "o ataque sem precedentes contra o fornecedor mundial de energia" tenha origem no Iêmen.
"Os Estados Unidos trabalharão com seus sócios e aliados para garantir o abastecimento dos mercados energéticos e para que o Irã preste contas de sua agressão", acrescentou.
Neste domingo (15/9), os governos do Irã e do Iraque rejeitaram as acusações de que estariam envolvidos com o ataque.
"Em vez de culparem a si mesmos - e admitirem que sua presença na região está criando problemas -, os americanos culpam os países da região, ou o povo do Iêmen", criticou o presidente iraniano, Hassan Rohani.
"Acusações e comentários tão estéreis e cegos são incompreensíveis e insensatos", declarou o porta-voz do Ministério iraniano das Relações Exteriores, Abbas Musavi.
Em nota transmitida à imprensa, o porta-voz disse que estes comentários têm o objetivo "de prejudicar a reputação de um país para criar um marco para futuras ações contra o Irã".
Musavi ironizou a política de "pressão máxima" dos Estados Unidos em relação ao Irã que, completou ele, "aparentemente se transformou em mentira máxima, devido a seu fracasso".
Já Amirali Hajizadeh, comandante do braço aeroespacial dos Guardiães da Revolução, a força de elite da República Islâmica, advertiu contra o risco de um conflito armado.
As tensões atuais, "com forças que estão frente a frente no terreno", podem deflagrar um conflito armado, disse Hajizadeh, segundo a agência Tasnim, ligada aos ultraconservadores iranianos.
"O Irã está preparado para uma guerra total", mas "nem nós nem os americanos querem a guerra", declarou Hajizadeh.
O príncipe herdeiro saudita, Mohamed bin Salman, cujo país é o grande rival regional do Irã, garantiu que Riad "quer e pode" responder a esta "agressão terrorista".
Para o especialista em Oriente Médio da S. Rajaratnam School, James Dorsey, represálias diretas são "muito pouco prováveis".
"Os sauditas não querem um conflito aberto com o Irã (...) Querem que outros lutem em seu lugar, mas os outros são reticentes", afirmou Dorsey.
O Iraque também negou hoje qualquer tipo de relação com o ataque, depois que alguns jornais noticiaram que os projéteis poderiam ter sido lançados do país. No Iraque, atuam várias milícias e facções paramilitares próximas ao Irã.
Nervosismo nos mercados
A Bolsa da Arábia Saudita abriu o pregão da semana com queda de 3%, reagindo negativamente à queda na produção de cru resultante do ataque. Nos primeiros minutos da sessão, o setor de energia recuou 4,7%, e os setores bancários e de telecomunicações perdiam 3% cada.
A ofensiva de ontem provocou incêndios na planta de Abqaiq, a maior no mundo dedicada ao tratamento do petróleo, e em Jurais.
O porta-voz do Ministério saudita do Interior, general Mansur al-Turki, disse à AFP que os ataques não deixaram vítimas.
Os rebeldes huthis já lançaram vários ataques à infraestrutura energética saudita. Desta vez, porém, as consequências foram de outra envergadura. Causaram uma redução brutal da produção de 5,7 milhões de barris por dia (mbd), ou seja, o equivalente a 6% do abastecimento mundial.
Esta diminuição da produção pode abalar a confiança dos investidores na Aramco, gigante do petróleo que prepara sua entrada na Bolsa.
Com os mercados atentos à capacidade da Arábia Saudita para conter os efeitos do ataque, o presidente da Aramco, Amin Naser, declarou que estão sendo realizadas "obras" para restabelecer toda a produção.
Recentemente nomeado ministro da Energia, o príncipe Abdulaziz bin Salman garantiu que a redução será compensada com as reservas.
Riad construiu cinco gigantescas instalações de reservas subterrâneas em todo país para poder armazenar milhões de barris dos diferentes produtos petroleiros refinados.
Em conversa por telefone entre o presidente americano, Donald Trump, e o príncipe herdeiro, a Casa Branca condenou os ataques contra "infraestruturas vitais para a economia mundial".
O enviado da ONU para o Iêmen, Martin Griffiths, declarou-se "extremamente preocupado com os ataques", que logo foram condenados pelos Emirados Árabes Unidos, Barein, Kuwait, aliados de Riad, assim como pela Organização de Cooperação Islâmica (OCI).
"Os ministros (das Relações Exteriores) expressaram sua condenação a este tipo de ataque terrorista e saudaram os comunicados oficiais dos países-membros e das organizações regionais e internacionais, que rejeitaram estas agressões, destinadas a desestabilizar a Arábia Saudita", declarou neste domingo o secretário-geral da OCI, o saudita Yussef al-Othaimeen, segundo a agência oficial de notícias saudita SPA.