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Caos na Cidade Luz

/ Funcionários do setor de transporte público de Paris paralisam atividades por 24 horas em protesto contra a reforma previdenciária anunciada pelo presidente Emmanuel Macron. Maior greve em 12 anos provocou congestionamentos gigantescos


Foi uma sexta-feira atípica na metrópole de 2,1 milhões de habitantes. Na ;le-de-France, a região que abriga Paris, não se via ninguém nas estações de metrô. Nas ciclovias, cidadãos usavam bicicletas e patinetes para chegar a tempo ao trabalho e fugir dos congestionamentos no trânsito, os quais somaram 400km de lentidão. O caos na capital francesa foi provocado pela maior greve no setor de transportes públicos dos últimos 12 anos, um protesto contra a implementação de um sistema de previdência ;universal;. De acordo com o Tribunal de Contas de Paris, a idade média de aposentadoria dos trabalhadores da Autoridade Autônoma de Transportes de Paris (RATP) em 2017 era de 55,7 anos ; a maioria dos trabalhadores franceses pode requerer o benefício somente aos 63 anos.

O movimento intensificou a pressão sobre o presidente francês, Emmanuel Macron, que há 10 meses enfrenta uma onda de manifestações violentas organizadas pelos ;coletes amarelos;, um grupo que exige a renúncia do chefe de Estado e o aumento do poder aquisitivo das classes média e baixa. Na greve de ontem, 10 das 16 linhas do metrô parisiense interromperam o funcionamento, e as demais ficaram saturadas. Os ônibus também reduziram a circulação, o que levou a um aumento na quantidade de carros nas ruas.


Custo
O jornal Le Monde estimou em 3 milhões de euros (cerca de R$ 13,5 milhões) os prejuízos causados pela paralisação parcial aos cofres da RATP. O sistema ferroviário em cidades próximas de Paris foi impactado, afetando milhares de pessoas que moram ou trabalham nos subúrbios. As linhas que ligam o centro ao Aeroporto Internacional Charles de Gaulle, a 20km da capital, operaram de modo irregular.

Se os cidadãos comuns foram afetados pelo protesto paredista, o mesmo não se pode falar dos motoristas de aplicativos de transporte privado. Segundo a agência France-Presse os preços dos serviços dispararam. Às 14h (9h em Paris), um trajeto de 7km custava 43 euros (R$ 196) no aplicativo Kapten, contra 18 euros (R$ 82) três horas mais cedo. Para mitigar os transtornos, a RATP exortou os parisienses a saírem de suas casas somente em caso de necessidade extrema e anunciou ;soluções alternativas de mobilidade; ; as quais incluem o uso gratuito limitado de motos ou bicicletas elétricas de livre serviço, subsídios a quem compartilhar o carro ou estacionamento pela metade do preço.


Sucesso
Em entrevista ao Correio, Jacques Sapir ; ex-diretor da Escola de Estudos Superiores em Ciências Sociais (em Paris) ; admitiu que a greve do transporte público foi um grande sucesso. ;O metrô ficou completamente paralisado, enquanto grande parte da frota de ônibus não deixou as garagens. Os parisienses tinham sido avisados com antecedência, pois na quinta-feira era óbvio que a resposta do movimento seria massiva. Eles ficaram em casa ou usaram meios de locomoção alternativos. Mas, vale lembrar, a greve durou apenas um dia. Se o protesto se repetir, o impacto na vida das pessoas será maior.;
Sapir explicou que a principal demanda do movimento sindical estava relacionada à modificação em andamento da lei de previdência anunciada pelo Palácio do Eliseu para os próximos anos. ;Os funcionários da agenda pública encarregada de todas as linhas do metrô e dos ônibus de Paris, a RATP, têm se beneficiado de um programa de aposentadoria bem interessante. Trata-se de uma compensação por suas condições de trabalho e pelos salários relativamente baixos;, afirmou o especialista. Segundo Sapir, quando o governo Macron anunciou a decisão de unificar todos os programas de aposentadoria, os funcionários da RATP a interpretaram como uma provocação. ;É bem provável que tenhamos outros dias de greve geral no transporte público de Paris.;


Eu acho...


;Ainda é difícil afirmar quais serão as consequências políticas de tal movimento grevista. O governo proclama a disposição a seguir em frente com a reforma previdenciária. No entanto, o presidente Emmanuel Marcron se enfraqueceu depois de meses de protestos sociais, do movimento dos ;coletes amarelos; e de escândalos públicos. Se os movimentos da segunda quinzena forem bem sucedidos como este, o governo ficará em situação bem difícil e terá de suavizar sua postura.;


Jacques Sapir, x-diretor da Escola de Estudos Superiores em Ciências Sociais (em Paris)