Noite de segunda-feira, Salão Oval da Casa Branca. O presidente norte-americano, Donald Trump, e o conselheiro de Segurança Nacional, John Bolton, travam uma discussão acalorada. O assessor da Casa Branca deixa clara sua oposição aos planos do magnata republicano de sediar uma cúpula com líderes do movimento fundamentalista islâmico Talibã (leia a entrevista) em Camp David, a residência de verão da Presidência dos Estados Unidos, em Maryland. Menos de 24 horas depois, o falcão da era George W. Bush era expulso do ninho. ;Eu informei a John Bolton, na noite passada (segunda-feira), que seus serviços não são mais necessários à Casa Branca. Eu discordei fortemente de muitas de suas sugestões, assim como outros no governo, e pedi a John sua demissão, que me foi dada nesta manhã. Agradeço muito a John por seu serviço;, anunciou Trump em seu perfil no Twitter, ao revelar que escolherá o substituto na próxima semana. Bolton, por sua vez, garantiu que pediu a própria renúncia a Trump. ;O presidente Trump disse: ;Vamos falar sobre isso amanhã;;, explicou, em um tuíte publicado minutos depois da mensagem do ex-chefe.
Para especialistas consultados pelo Correio, a divergência de Bolton em relação ao Talibã precipitou a sua queda. Defensor de abordagens duras em relação a Venezuela, Irã, Cuba, Rússia e Coreia do Norte, Bolton foi o terceiro conselheiro de Segurança Nacional afastado durante o governo Trump. Em entrevista coletiva, o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, admitiu que o mandatário pediu a renúncia do assessor, mas não ofereceu detalhes sobre os motivos da saída. ;O presidente tem o direito ao pessoal que deseja a qualquer momento. Esta é uma pessoa que trabalha diretamente para o presidente dos Estados Unidos, e ele deveria ter pessoas nas quais confie e valorize, e cujos esforços e julgamentos o beneficiem na implementação da política externa americana;, comentou, ao reconhecer que por várias vezes discordou de Bolton.
Motivos
Mark Groombridge, assessor de Bolton por mais de uma década e pesquisador do Cato Institute (em Washington), afirmou que a demissão do conselheiro de Trump ;era sempre uma questão de ;quando, não de ;se;. ;Francamente, estou surpreso com o fato de o embaixador Bolton ter durado tanto;, disse. Segundo ele, o expurgo de Bolton foi motivado por três fatores combinados. ;Em primeiro lugar, não faz sentido ser aconselhado por alguém quando você sabe sempre a resposta que ele dará. As visões de Trump e de Bolton sobre o mundo eram tão discrepantes que, obviamente, eles colidiriam em algum momento;, lembrou. ;Em segundo lugar, Bolton tentou comandar um Conselho de Segurança Nacional em estilo imperial, pisando os pés de Pompeo e do chefe de gabinete da Casa Branca, Mick Mulvaney, dois poderosos inimigos. Em terceiro, Bolton foi visto jogando o vice-presidente Mike Pence sob o ônibus, em relação ao Afeganistão, após permanecer calado sobre o cancelamento da cúpula com o Talibã. Se Pence saiu em defesa de Trump, Bolton simplesmente ficou em silêncio. Trump dirige um reality show individual e exige lealdade absoluta. Bolton fracassou no teste.;
Groombridge duvida que a partida de Bolton surta impacto importante. ;O substituto será um ;naipe vazio;, uma pessoa com muito medo de oferecer o próprio conselho;, previu. De acordo com Joshua Pollack, especialista do Instituto de Estudos Internacionais de Middlebury (em Monterey), a demissão era aguardada há tempos em Washington. ;Durante todo o verão, houve relatos de que ele se tornara isolado dentro do governo e entrada em desacordo com Trump sobre o Afeganistão e o Irã;, afirmou. ;Estudiosos em política externa veem Bolton como o pior conselheiro de Segurança Nacional de todos os tempos, alguém que dispensou amplamente os processos deliberativos entre as agências do governo, os quais ele deveria supervisionar, e os substituiu por conselhos pessoais. Trump apenas parece ter ficado irritado com os conselhos de Bolton.; Pollack aposta que o substituto fará menos aparições na tevê e não tentará obstruir o desejo do presidente de negociar com iranianos, norte-coreanos e talibãs.
Eu acho...
;O embaixador John Bolton sempre acreditou firmemente que os Estados Unidos e mundo são mais seguros quando os EUA lideram. Às vezes, isso exige uma forte postura intervencionista, a fim de prevenir ameaças futuras. Ele estava profundamente preocupado de que a interseção ou o nexo de Estados párias e armas de destruição em massa pudessem causar danos catastróficos aos EUA e aos aliados.;
Mark Groombridge, pesquisador do Cato Institute (em Washington).
Trabalhou como assessor de John Bolton por mais de uma década