Com maioria sólida de 343 contra 263, o primeiro-ministro Giuseppe Conte obteve ontem o voto de confiança da Câmara dos Deputados para assumir um novo mandato à frente do governo da Itália. Conte, um professor de direito sem filiação partidária, lidera um gabinete de coalizão entre o partido antissistema Movimento Cinco Estrelas (M5S), com o qual simpatiza, e o Partido Democrático, de centro-esquerda, herdeiro do histórico Partido Comunista.
Em discurso de uma hora e meia, Conte apresentou um ;amplo projeto político;, cuja implantação se estenderá durante uma legislatura que deve durar até 2023. Segundo o premiê, a mudança se baseará na moderação. Para isso, ele pediu à classe política e à população ;mais sobriedade, sobretudo nas redes sociais;. Aos ministros, pediu ;mais coesão e lealdade; na condução dos assuntos de governo, em referência implícita ao líder ultradireitista Matteo Salvini, ex-ministro do Interior, que provocou a queda do último gabinete para forçar a convocação de eleições.
;A população espera de nós um discurso e uma ação à altura das nossas funções e também um pouco mais de humanidade;, afirmou Conte, que considerou indispensável ;restabelecer a confiança; nas instituições. O programa de governo, que ele mesmo classificou como um ;pacto político e social;, se assenta nas linhas gerais de um pelo qual M5S e PD se comprometem a ;fazer o país renascer, com desenvolvimento e igualdade social;.
Uma das primeiras tarefas do novo gabinete será relançar o crescimento de uma economia à beira da recessão, graças a um orçamento para 2020 que pretende evitar o aumento automático do imposto sobre valor agregado, ;em um contexto internacional incerto;. Conte ponderou que é preciso ;melhorar o pacto de estabilidade; da União Europeia (UE), que impõe a todos os países um deficit inferior a 3% do PIB e um nível de endividamento inferior a 60%. A Itália cumpre os requisitos do deficit, mas tem uma dívida superior a 132% do PIB.
No âmbito do bloco continental, Conte propôs uma ;conferência sobre o futuro da Europa;, para dar impulso à UE no plano internacional e redefinir seu papel ;em um mundo em plena transformação;. O premiê italiano disse esperar ;mais solidariedade; dos sócios em questões como a imigração, problema que a Itália quer administrar, a partir de agora, ;de maneira estrutural e não como emergência;.
O discurso foi interrompido várias vezes pelos deputados de extrema direita, que pediam, aos gritos, a convocação de eleições. Diante da sede do parlamento, centenas de simpatixzantes da ultradireita exibiam bandeiras italianas e retratos de do premiê com a demanda de que ele ;deixe a cadeira e se submeta ao voto;.
Discursando para os simpatizantes, Matteo Salvini garantiu que fará ;uma oposição séria; ao novo governo ; ;no parlamento, mas também entre o povo, de norte a sul, cidade a cidade;, prometeu. ;Hoje, uma parte da Itália, no meu entender majoritária, foi às ruas para pedir novas eleições;, insistiu.