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Johnson inicia batalha por eleições gerais para superar bloqueio do Brexit

Johnson defende que os eleitores concedam um novo mandato a seu governo, depois das derrotas humilhantes sofridas no Parlamento

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, iniciou uma ofensiva nesta quinta-feira (5) para aprovar as eleições antecipadas que o Parlamento rejeitou na véspera, depois de perder sua maioria e ver o governo empurrado a solicitar um novo adiamento do Brexit, algo que o conservador considera inaceitável.

Encurralado em uma posição insustentável, o Executivo anunciou, um dia depois da rejeição por parte da Câmara dos Comuns de eleições antecipadas em 15 de outubro, que organizará uma nova votação na segunda-feira.

O ministro para Relações com o Parlamento, Jacob Rees-Mogg, negou-se a explicar se esta seria uma moção do mesmo tipo que a anterior, que exigiria o apoio de dois terços dos deputados, ou de outro tipo, que requer apenas maioria relativa.

Isto provocaria a suspeita de uma manobra para colocar a oposição, que na véspera se absteve quase por completo, diante do dilema de votar contra eleições que promete há muito a seus eleitores.

Para reforçar a disputa, Johnson "falará diretamente ao público, expondo a escolha vital que nosso país enfrenta", anunciou seu porta-voz.

Depois de receber em Londres o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, e o vice-presidente americano, Mike Pence, o primeiro-ministro discursará em um evento em Yorkshire, região norte do país. Desfavorecida economicamente, a população local votou em sua maioria a favor do Brexit.

Partidário do Brexit, o governo dos Estados Unidos está "pronto, disposto e capacitado para negociar imediatamente um acordo de livre-comércio com o Reino Unido", declarou Pence.


Lealdade familiar e interesse nacional

Johnson defende que os eleitores concedam um novo mandato a seu governo, depois das derrotas humilhantes sofridas no Parlamento.

Na quarta-feira, a Câmara dos Comuns aprovou uma lei que obrigaria o Executivo a solicitar a Bruxelas um novo adiamento do Brexit na ausência de um acordo até 19 de outubro.

O chefe de Governo recebeu mais um duro golpe nesta quinta-feira: seu irmão mais novo, Jo Johnson, anunciou sua saída do Executivo e do Parlamento, consequência do que chamou de "tensão irresolúvel entre a lealdade familiar e o interesse nacional".

Decidido por referendo em 2016, o Brexit deveria ter acontecido em março. Depois que o acordo negociado pela então primeira-ministra Theresa May foi rejeitado pelo Parlamento, a saída foi adiada para 31 de outubro.

Johnson chegou ao poder em julho com a promessa de retirar o país da União Europeia (UE) na data prevista - com, ou sem, acordo. E se recusa a solicitar um novo adiamento.

Ele prefere convocar eleições legislativas antecipadas depois de perder a maioria parlamentar: na terça-feira, 21 deputados conservadores abandonaram seu governo.

A oposição não pretende, porém, concordar com as legislativas antes de ratificar a lei que impede o Brexit sem acordo.

Para convencer os opositores, o governo se comprometeu a não bloquear o texto na Câmara dos Lordes, onde deve ser aprovado nesta sexta-feira.

"O problema é que, neste momento, não podemos confiar que Boris Johnson cumpra qualquer compromisso, ou acordo, que possamos construir", declarou à rádio BBC o trabalhista John McDonnell.

E mesmo com a garantia de que um adiamento será solicitado a Bruxelas, a principal força de oposição poderia preferir eleições após 31 de outubro, em vez de sua realização no dia 15.

"Não há negociações", afirma UE

A data não é algo trivial: o Conselho Europeu se reúne nos dias 17 e 18 de outubro, e os trabalhistas não querem que o conservador tenha a possibilidade de chegar a Bruxelas reforçado por uma nova maioria absoluta.

Além disso, eleições a partir de novembro seriam benéficas para a oposição, pois Johnson entraria na disputa depois de descumprir sua grande promessa: a de não solicitar mais adiamentos e tirar o Reino Unido da UE a qualquer custo.

O primeiro-ministro considera possível alcançar um novo acordo com 27 países da UE até o fim de outubro, mas ninguém tem seu otimismo.

"Não há negociações reais em Bruxelas", afirmou o eurodeputado ecologista Philippe Lamberts, após uma reunião na quarta-feira com o negociador-chefe europeu, Michel Barnier.

"Está claro que a estratégia desonesta de Johnson está planejada para empurrar o Reino Unido para a beira do abismo de um Brexit sem acordo", completou.

Em uma aparente lançamento da campanha eleitoral, o ministro das Finanças, Sajid Javid, defendeu o ambicioso orçamento apresentado na quarta-feira, que prevê um aumento de 13,8 bilhões de libras nos gastos públicos, especialmente em educação e saúde, os grandes temas defendidos pela oposição trabalhista.

"Se concentra nas prioridades da população", declarou à BBC.

Ao mesmo tempo, a batalha prossegue nos tribunais: uma corte de Londres examina nesta quinta-feira uma ação contra a decisão de Johnson de suspender o Parlamento entre a segunda semana de setembro e 14 de outubro.