O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, afirmou nesta segunda-feira, 2, que convocará novas eleições para 14 de outubro se seu governo sofrer uma derrota no Parlamento sobre o Brexit. Um funcionário do governo prometeu que se os deputados conservadores rebeldes se unirem à oposição para derrotar Johnson na votação desta terça-feira, 3, ele apresentará na quarta-feira ao Parlamento uma moção pedindo eleições antecipadas.
O anúncio contradiz a declaração feita mais cedo por Johnson de que não convocaria eleições antecipadas por confiar na possibilidade de um acordo com a União Europeia. "As chances de chegar a um acordo aumentaram", disse Johnson, em comunicado, após reunião de urgência de seu gabinete.
"Mas se há algo que pode nos impedir nessas negociações é a sensação em Bruxelas de que os deputados podem encontrar uma maneira de invalidar o referendo ou que os deputados votem com (o opositor) Jeremy Corbyn em favor de outro adiamento sem significado."
Johnson também ameaçou expulsar do partido os deputados conservadores que se aliarem à oposição para impedir uma saída brusca da UE, como vem ameaçando fazer o primeiro-ministro.
Johnson chegou ao poder no fim de julho, em substituição a Theresa May. Desde que assumiu, o premiê assegurou que vai retirar o Reino Unido da UE dentro do prazo de 31 de outubro, com ou sem acordo.
Na semana passada, ele anunciou a suspensão do Parlamento entre a segunda semana de setembro e o dia 14 de outubro, oficialmente para permitir que o novo Executivo apresente seu programa político.
No entanto, seus adversários denunciaram a suspensão como uma manobra para impedir qualquer ação contra um Brexit radical. A decisão desencadeou uma onda de indignação e protestos em todo o país sob o lema "Parem o golpe de Estado".
O Parlamento retorna do recesso hoje e vários deputados conservadores disseram estar dispostos a votar com a oposição para aprovar uma lei urgente obrigando o Executivo a solicitar novo adiamento.
O governo tem maioria parlamentar de apenas um deputado - contando com os 10 do partido unionista norte-irlandês, o DUP. Uma rebelião dentro do Partido Conservador, portanto, poderia ser fatal para o premiê. Por isso, a ameaça de ontem alimentou especulações sobre a iminência de eleições legislativas antecipadas.
De acordo com uma nova pesquisa do instituto YouGov, realizada após a decisão de suspender o Parlamento, 62% dos eleitores classificaram Johnson como "determinado", 23 pontos porcentuais a mais do que no mês anterior, e 40% como "competente", um aumento de 11 pontos. Os conservadores têm 33% das intenções de voto, os trabalhistas, 22%; os liberal-democratas, 21%; e o Partido do Brexit, 12%.
Preparando-se para a sessão parlamentar de hoje, Corbyn, líder do Partido Trabalhista, reuniu seus colaboradores mais próximos em Salford, noroeste da Inglaterra. Segundo um trecho divulgado antecipadamente de seu discurso, Corbyn deve pedir cooperação. "Trabalharemos com outras partes para fazer todo o necessário para afastar nosso país do precipício."
Moção
Entre as medidas possíveis, os trabalhistas consideram entrar com uma moção de censura contra Johnson, embora a ideia pareça inviável porque os outros partidos da oposição não confiam em Corbyn para liderar um governo interino.
Provavelmente, a aliança recorrerá a um procedimento técnico para retirar do governo o controle da agenda parlamentar e tentar aprovar uma lei que exija um novo adiamento do Brexit, inicialmente programado para março deste ano e estendido duas vezes.
O deputado trabalhista Hillary Benn antecipou ontem o projeto de lei que os parlamentares tentarão apresentar hoje. No entanto, segundo ele, antes é preciso que o presidente da Câmara dos Comuns, John Bercow, ponha em votação uma moção que abra caminho para a oposição assumir o controle da agenda parlamentar.
A lei tenta impor ao governo um prazo de 19 de outubro para fechar um acordo com a UE. A data coincide com o fim da próxima cúpula de líderes do bloco, que começará dois dias antes. Se até lá não houver acordo ou a aprovação de um Brexit duro, o projeto exige que o premiê peça a Bruxelas um adiamento de três meses. Não é garantido que a iniciativa receba o apoio necessário, mas o deputado Michael Gove, aliado de Johnson, sugeriu que, mesmo que aprovem uma lei, o governo pode não cumpri-la. (Com agências internacionais).