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China aperta cerco a líderes de atos em Hong Kong

O governo chinês mudou de estratégia e resolveu apertar o cerco contra a cúpula de ativistas pró-democracia em Hong Kong. Ontem, pelo menos 20 líderes dissidentes foram detidos em uma tentativa de conter a onda de protestos no território. Os resultados foram imediatos. As manifestações marcadas para hoje foram canceladas. "Não temos outra opção a não ser cancelar a marcha (de hoje)", disse Bonnie Leung, porta-voz e vice-coordenadora da Frente Cívica de Direitos Humanos. Segundo ela, o movimento pró-democracia não consegue mais, a partir de agora, proteger os participantes de "consequências legais" e "assegurar a integridade física dos manifestantes". Entre os ativistas presos estava Joshua Wong, que ganhou destaque após os protestos de 2014. Com fama de moderado, ele havia pedido publicamente aos manifestantes que não usassem violência. Também foram detidos Andy Chan, presidente do Partido Nacional de Hong Kong, e Agnes Chow, ex-líder estudantil - todos foram libertados, horas depois, após pagamento de fiança. Os manifestantes alegaram que pelo menos parte da violência a eles atribuída pode ter sido instigada por agentes policiais disfarçados - a polícia reconheceu ter se infiltrado nos protestos. Os dissidentes suspeitam que as autoridades também estejam envolvidas em ataques de homens armados com tacos de beisebol e cutelos, tática associada ao crime organizado com histórico de vínculo com Pequim. Autonomia Em 1997, o Reino Unido devolveu o território para a China, que deu garantias de que Hong Kong seria administrada de acordo com o princípio batizado de "um país, dois sistemas", pelo qual a cidade manteria autonomia em quase todos os aspectos - exceto em temas de política externa e defesa - durante 50 anos. A crise em Hong Kong eclodiu em junho, quando o governo do território apresentou um projeto de lei para facilitar a extradição de pessoas para serem julgadas na China - os ativistas acreditam que a proposta tinha como objetivo calar os dissidentes. Os protestos começaram imediatamente, pressionando o governo do território, liderado por Carrie Lam. O plano de facilitar o envio de pessoas para a China acabou suspenso, mas a reviravolta não acalmou os ânimos. Os manifestantes mudaram a pauta de reivindicações, exigindo a retirada total do projeto de lei e a renúncia de Lam, acusada de ser um fantoche do Partido Comunista chinês. Mais de dois meses depois, temendo que as manifestações saíssem do controle, autoridades chinesas decidiram adotar a política de prisões de manifestantes. A ordem, segundo membros do governo de Hong Kong, é que as detenções sejam feitas pela polícia do território - e não pelos militares chineses, cuja intervenção seria sem precedentes. "As autoridades apostam que os protestos gradualmente diminuirão à medida que a polícia detenha os manifestantes mais radicais e a opinião pública se volte contra o uso da violência", disse Lau Siu-kai, consultor do governo chinês. Ontem, a polícia de Hong Kong disse que havia prendido mais de 900 pessoas em conexão com os protestos. Algumas figuras políticas locais estimaram que cerca de 4 mil manifestantes são vistos pelas autoridades como "radicais", mas não ficou claro quantos acabariam enfrentando ações legais. Com o presidente da China, Xi Jinping, ocupado em uma guerra comercial contra os EUA, a estratégia de atrito de longo prazo em Hong Kong é vista por Pequim como uma abordagem preferível a uma invasão completa do território, que poderia agravar ainda mais a crise. (Com agências internacionais) As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.