A primeira usina nuclear flutuante do mundo começou, ontem, uma perigosa travessia de 5 mil quilômetros pelas águas geladas do Ártico, de Murmansk até o Extremo Oriente da Rússia. Ambientalistas temem pela viagem entre quatro e seis semanas do ;Akademik Lomonosov;, um flutuador de 21 mil toneladas composto de dois reatores. ;Eles estão carregados de combustível nuclear, que tinha sido irradiado durante os testes. O Oceano Ártico pode ser bem imprevisível quanto ao clima. Como o ;Akademik Lomonosov; não possui propulsão própria, ele pode ficar sem direção se o cabo que o conecta ao rebocador se romper. Isso pode ocorrer durante uma tempestade, arremessando a barcaça contra rochas ou icebergs;, alertou ao Correio Jan Haverkamp, especialista em energia nuclear do Greenpeace no leste e no centro da Europa.
De acordo com Haverkamp, os reatores não têm os sofisticados recursos de segurança das modernas centrais nucleares. ;O erro humano, combinado com falhas técnicas, representa grave risco, assim como um ataque terrorista. Quando um grave acidente ocorrer, a localização remota tornará uma resposta emergencial mais difícil;, explicou. O especialista lembra que o ;Akademik Lomonosov; necessitará de reabastecimento a cada três anos e levará 12 anos até ele ser rebocado de volta a Murmansk para o descarregamento do combustível e a manutenção. ;O acúmulo de combustível gasto apenas aumenta o risco. Por causa da alta queima, estamos falando de material altamente radioativo, que precisará de refrigeração constante.
Durante uma visita da agência France-Presse, em maio de 2018, o flutuador de 144m de comprimento e 30m de largura, com uma tripulação de 69 pessoas, navegava a uma velocidade média de entre 3,5 e 4,5 nós (6,5-8,3km/h). A expectativa é de que, na pequena cidade de Pevek (na Sibéria Oriental), o ;Akademik Lomonosov;seja conectado à rede elétrica local, fornecendo energia capaz de abastecer até 100 mil pessoas, ainda que o lugarejo abrigue menos de 5 mil moradores.
Haverkamp disse que a central nuclear flutuante foi construída em meio à pressão sob a estatal russa Rosatom para a exploração de estoques de hidrocarbonetos (petróleo, gás e carvão) do Ártico. ;Os combustíveis fósseis da região se tornaram acessíveis graças às mudanças climáticas. O uso do ;Akademik Lomonosov; para a exploração desses recursos não apenas aumenta o risco de um desastre nuclear no Ártico, mas também agrava o aquecimento global;, lamentou o especialista do Greenpeace. ;Centrais nucleares flutuantes são arriscadas, principalmente em áreas sísmicas ativas. Imagine tsunamis quebrando uma instalação dessas e lançando-a à terra. Também são extremamente caras, em comparação com tecnologias renováveis existentes, como a energia eólica e solar.; (RC)
Eu acho...
;O Akademik Lomonosov está sendo chamado de ;Chernobyl sobre o gelo;. Ainda que os reatores de Chernobyl fossem de tipo completamente diferente, creio ser uma boa comparação. Assim como em Chernobyl, os reatores do navio foram construídos sem a devida supervisão regulatória independente. Um gerente da estatal Rosatrom classificou a barcaça de ;inafundável;. última vez que escutei tal termo foi em relação ao Titanic.;
Jan Haverkamp, especialista em energia nuclear do Greenpeace no leste e no centro da Europa