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Meia promessa para o Brexit

Em visita a Paris, o premiê britânico discute com o colega francês as negociações sobre o rompimento entre o Reino Unido e a União Europeia. O anfitrião insiste nos termos fechados com a antecessora e rejeitados três vezes pelo parlamento de Londres


O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, saiu ontem do Palácio do Eliseu, em Paris, com uma meia promessa do presidente Emmanuel Macron sobre a perspectiva de um acordo para a saída do Reino Unido da União Europeia (UE), marcada para 31 de outubro. Depois de ter frisado que são inegociáveis os termos do acordo negociado com o bloco por Theresa May, antecessora de Johnson, que renunciou por não conseguir aprovar o documento na Câmara dos Comuns, o anfitrião disse acreditar que é possível chegar a ;um bom acordo; dentro do prazo. Caso não haja acerto nem um novo adiamento no Brexit, o Reino Unido deixará a UE na data prevista sem que os dois lados tenham qualquer tipo de arranjo sobre as relações futuras.

Falando à imprensa ao lado do visitante, diante do palácio presidencial, Macron manifestou ;confiança; de que será possível ;encontrar algo lúcido; até a data fatal, se houver ;disposição construtiva e boa vontade de ambos os lados;. Lembrou que o rompimento com a UE foi ;uma decisão tomada pelos britânicos, que não faz sentido tentar não aplicar;. Mas repisou a exigência ;indispensável; de que se mantenha o dispositivo de segurança para impedir a restauração de uma fronteira convencional entre o território britânico da Irlanda do Norte e a República da Irlanda, que segue integrando o bloco.

A ;salvaguarda irlandesa;, principal obstáculo à aprovação do acordo pelo parlamento britânico, é o ponto central da proposta de Johnson para renegociar o acerto entre Londres e Bruxelas. ;Eu quero um acordo;, disse o premiê antes de entrar no Eliseu para as conversações com Macron. ;Acredito que podemos chegar a um acordo, e um bom acordo; até 31 de outubro, insistiu. ;Com energia e criatividade, podemos ir em frente.; O premiê, entusiasta do Brexit no plebiscito de 2016 e líder da oposição ao acordo no Partido Conservador, ao qual pertence também a antecessora, assumiu a liderança e a chefia do governo com o compromisso de cumprir a data fixada para a saída do país do bloco, ;custe o que custar;.

Nas declarações de ontem, Macron moderou o tom adotado na véspera, quando pareceu contradizer a chanceler (chefe de governo) da Alemanha, Angela Merkel. Depois de receber Johnson em Berlim, ela sugeriu que seria possível superar o impasse do Brexit no prazo de 30 dias, acenando com a possível revisão dos termos negociados com Theresa May. Ontem, Merkel reafirmou que Londres tem prazo até 31 de outubro para evitar o ;divórcio litgioso; com a UE. ;Eu disse que eles querem fazer isso em dois ou três anos, mas podem fazer em 30 dias. Ou melhor, eu poderia dizer: podem fazer isso antes de 31 de outubro;, disse a chanceler à imprensa em visita a Haia, na Holanda.

Estreia
Boris Johnson fará no fim de semana sua estreia em uma reunião de cúpula do G7, que reúne as maiores economias do mundo. O encontro, na cidade francesa de Biarritz, marcará também sua primeira reunião bilateral com o amigo e aliado Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, que apoiou sem reservas sua campanha para suceder Theresa May e aplaude a determinação do premiê britânico de aceitar o Brexit sem acordo.


"Eu quero um acordo. Com energia e criatividade, podemos ir em frente;
Boris Johnson, primeiro-ministro do Reino Unido

"Podemos encontrar algo lúcido, se houver boa vontade de ambas as partes"
Emmanuel Macron, presidente da França