Fernández garantiu ainda que o acordo de livre-comércio entre Mercosul e União Europeia (UE) ainda "não existe", criticou a "prepotência" do presidente Jair Bolsonaro e afirmou que o atual presidente argentino, Mauricio Macri, causou "danos" ao país.
Nome mais votado nas eleições primárias de domingo passado (11), com 47% dos votos, ele completa sua chapa com a ex-presidente Cristina Kirchner, na coalizão Frente de Todos (peronismo de centro esquerda).
A tempestade gerada por sua vitória abalou os mercados, com a Bolsa de Buenos Aires acumulando queda de 30% na semana, e o peso, uma desvalorização de quase 20%. Também provocou a renúncia do ministro Nicolás Dujovne. Ele foi substituído pelo economista Hernán Lacunza, respeitado pelos mercados e com vínculos com todos os setores do espectro político.
Após anúncios de medidas de ajuste salarial e de corte de impostos por parte do governo Macri, o homem que pode chegar à Casa Rosada em 27 de outubro deu algumas respostas sobre como vislumbra o futuro do país.
"Renegociar com o FMI;"
"Eu diria que há uma única realidade incontrastável, e é que a Argentina, nestas condições, não está podendo pagar as obrigações (de crédito) que assumiu", disse ele ao jornal "Clarín", ao comentar o acordo negociado pelo governo com o FMI da ordem de 56 bilhões de dólares.
O objetivo da gestão Macri com os empréstimos do Fundo é tentar estabilizar o mercado cambial."Temos que entender que estamos virtualmente em condições de ;default; e, por isso, os títulos argentinos valem o que valem, porque o mundo se dá conta (de) que não pode pagar", lançou Fernández.
Embora tenha dito que "a Argentina deve cumprir suas obrigações", ele lembrou da negociação "um a um" com os proprietários de bônus da dívida argentina, após o "default" de 2001. "Tem que sentar e discutir um a um, como fizemos com a dívida naquela época. Lembrem-se de que nós pedimos aos proprietários de títulos que aceitassem um desconto de 75%", frisou.
"A única solução que aparece é adiar as datas" de pagamento, disse ao jornal "La Nación".Fernández criticou ainda o acordo entre Mercosul e UE firmado após 20 anos de negociações. "O tratado não existe (...) o que existe é uma série de pontos a acertar, que vai demandar dois anos de negociação", apontou."O que eu vou fazer com o acordo (...) é (...) tratar dele, estudá-lo, tentar tirar as maiores vantagens para a Argentina, rejeitar as coisas prejudiciais. E, se pudermos chegar a um acordo, bem-vindo seja", concluiu.
Mercosul
"Me incomoda a forma e a prepotência com que fala, entre outras coisas. Mas a verdade é que o Brasil é muito mais importante do que Bolsonaro", afirmou, na entrevista ao "Clarín".
"Para mim, o Mercosul é um lugar central. E o Brasil é nosso principal sócio e vai continuar sendo. Se Bolsonaro pensa que eu vou fechar a economia e que então o Brasil vai deixar o Mercosul, que fique tranquilo, porque não penso em fechar a economia. É uma discussão idiota", declarou ao "La Nación", rebatendo o ministro brasileiro da Economia, Paulo Guedes.
Na semana passada, Guedes advertiu que o Brasil sairá do Mercosul, se Fernández chegar ao poder e quiser fechar a economia do bloco.
Macri
"A única coisa que Macri fez em quatro anos foram quase cinco milhões de pobres", criticou Fernández.A Argentina tem, hoje, pelo menos 32% da população vivendo na pobreza e uma inflação de 50% ao ano.
"O problema central que Macri teve foi uma leitura ruim de como combater a inflação. Aí está a origem do caos econômico que se criou", alegou o candidato peronista. Consultado sobre como controlar a volatilidade cambial que afeta o país, reiterou um dos pedidos que mais tem feito desde domingo passado: "Tentar preservar as reservas. É a única coisa que nos resta depois de todo dano que se fez".