"França, Alemanha, Romênia, Portugal, Espanha e Luxemburgo acabam de informar que estão dispostos a receber migrantes", escreveu o primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, em uma carta aberta dirigida ao ministro italiano do Interior, Matteo Salvini.
"Mais uma vez, meus colegas europeus estendem a mão", agradeceu Conte, ao mesmo tempo que criticou a postura de Salvini contrária aos migrantes.
O poder de Matteo Salvini, líder do partido Liga (extrema-direita) e atualmente vice-premier, passa por momentos de fragilidade desde que ele decidiu, semana passada, dinamitar a aliança governamental, formada há apenas 14 meses entre sua formação e o Movimento Cinco Estrelas (M5S, antissistema). O caso da Open Arms evidenciou suas dificuldades.
O ministro do Interior, que exige um rodízio europeu de portos de desembarque, assinou no início do mês um decreto que proibia a entrada de barcos humanitários em águas territoriais italianas sem autorização.
Na quarta-feira, um tribunal administrativo suspendeu a aplicação do primeiro decreto, contra o qual a própria "Open Arms" havia apresentado um recurso.
Salvini assinou então um novo decreto para impedir a entrada do barco, mas este deveria ser validado pela ministra da Defensa, Elisabetta Trenta.
Integrante do M5S, Trenta se negou a referendar a decisão de Salvini: "Decidi não assinar o novo decreto do ministro do Interior destinado a impedir a entrada, trânsito e parada nas águas territoriais do barco da ONG Open Arms".
"Tomei a decisão com base em sólidas razões legais, escutando minha consciência. Não devemos esquecer que por trás das polêmicas dos últimos dias existem crianças e jovens que sofreram violência e abusos de todo tipo. A política não deve perder nunca de vista a humanidade", explicou Elisabetta Trenta em um comunicado.
Na quarta-feira, ela enviou dois barcos para escoltar o "Open Arms", com a intenção de retirar os 32 menores de idade que estavam a bordo.
"Humanidade não significa ajudar os traficantes e as ONGs", rebateu Salvini nas redes sociais. "É graças a este suposto conceito de ;humanidade; que nos anos de governo (do Partido) Democrático a Itália se tornou o campo de refugiados da Europa".
Salvini, que tem atualmente 36-38% das intenções de voto, baseia sua popularidade na linha dura contra a migração ilegal. Nos últimos dias parece ter sido formada uma inesperada frente política de oposição à Liga, formada pela aliança entre o M5S e o Partido Democrático (centro-esquerda).