Em um gesto classificado de cooptação por alguns especialistas, a Força Armada Nacional Bolivariana (FANB) descartou, ontem, que a Venezuela possa sofrer um golpe de Estado ou ter um governo de transição. ;Não vai haver nem golpe de Estado, nem governo de fato, nem transição alguma;, garantiu Vladimir Padrino López, ministro da Defesa e comandante da FANB. Ele tachou de ;traidores; os opositores ao presidente Nicolás Maduro que apoiam as sanções anunciadas pelos Estados Unidos. ;Aqui não vai instalar nenhum governo, porque há uma Força Armada consciente de suas obrigações morais e constitucionais;, afirmou o oficial, ao sublinhar que seus homens não são suscetíveis de ;mudar-se de um lado para outro;.
Em entrevista ao Correio, José Vicente Carrasquero Aumaitre, cientista político da Universidad Simón Bolívar (USB), afirmou que o ministro Padrino López é ;um exemplo vivo de um político uniformizado;. ;Ele viola a Constituição, ao se comportar como tal, e não guarda as formas próprias de um militar apolítico e não deliberativo. Está claro que Padrino se beneficia pessoalmente da permanência de Maduro no poder. Os níveis de riqueza que exibe somente se explicam por meio de vantagens recebidas por apoiar o presidente;, comentou.
De acordo com Carrasquero, o mote da FANB é ;lealdade com cooptação;. ;Os militares receberam concessões para explorar recursos naturais, como ouro e colan (mescla dos minerais columbita e tantalita). Eles ocupam cargos importantes em empresas e em instituições estatais e, com a ajuda da corrupção, adquirem um altíssimo nível de vida. Outro fator é o controle que militares cubanos exercem sobre comandantes de nível médio da forças armadas e sobre os esquemas de espionagem, com os quais acusam aqueles que manifestam insatisfação com o regime;, disse.
A decisão do Judiciário venezuelano de suspender a imunidade parlamentar de quatro deputados repercutiu negativamente na comunidade internacional. A alta representante da União Europeia para Política Externa, Federica Mogherini, considerou que o Tribunal Supremo da Venezuela atuou de modo arbitrário e com motivação política. ;As decisões motivadas arbitrária e politicamente, tomadas pelo Tribunal Supremo venezuelano e pela não reconhecida Assembleia Constituinte contra a Assembleia Nacional (opositora) e contra quatro de seus membros supõe outro ataque direto ao único órgão eleito democraticamente na Venezuela;, afirmou, por meio de um comunicado. Ontem, o presidente da Colômbia, Iván Duque, antecipou que denunciará o regime Maduro na Assembleia Geral da ONU por supostamente financiar e proteger ;terroristas colombianos; na Venezuela.