O candidato kirchnerista à presidência da Argentina, Alberto Fernández, obteve ontem 47% dos votos nas primárias para a eleição de outubro, com uma vantagem de 15 pontos para o presidente Mauricio Macri. Com as candidaturas definidas por consenso, as prévias no país tornaram-se um termômetro da disputa presidencial. Assim, o prognóstico para a reeleição de Macri é sombrio.
Caso confirmada a tendência de ontem em outubro, Fernández seria eleito em primeiro turno, já que na Argentina bastam mais que 45% dos votos para evitar o segundo turno. A participação foi de 75% dos eleitores, a mesma das eleições de 2015, vencidas por Macri.
"Tivemos um resultado ruim e isso nos obriga a partir de amanhã a redobrar nossos esforços", disse Macri após receber os resultados, que, com 88% das urnas apuradas, davam-lhe 32% dos votos contra 47% de Fernández. "Dói não ter obtido o apoio que esperávamos."
"Começa um novo tempo", disse Fernández, que tem a ex-presidente Cristina Kirchner como companheira de chapa, ao saber que as projeções lhe davam vantagem.
Ex-chefe de gabinete de Cristina e do ex-presidente Néstor Kirchner, Fernández nunca disputou uma eleição majoritária e conta com o potencial de transferência de votos da ex-presidente, que ainda é muito popular no país, e com sua habilidade política para unificar as diversas correntes do peronismo, para derrotar Macri.
Envolvida em diversas denúncias de corrupção, Cristina está no banco dos réus em uma acusação de favorecer empresários em troca de propina. Ela abdicou da cabeça de chapa em junho e apostou em Fernández, com quem não falava há mais de dez anos.
Desde então, o presidenciável trabalhou por unificar o peronismo, atraindo o apoio do ex-kirchnerista Sérgio Massa e de outros nomes importantes da legenda.
Mergulhada na recessão econômica, a Argentina vive uma alta crônica na inflação dos produtos da cesta básica, que obrigou o país a cortar subsídios, congelar preços e recorrer a um empréstimo junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI).
Para Mariel Fornoni, diretora da consultoria Management , a deterioração da economia argentina ajudou Fernández. "Por mais que a imagem de Cristina esteja danificada, está claro que o ponto fraco de Macri é a gestão da economia", disse.
Fernández votou no meio da manhã em Puerto Madero, o moderno bairro de Buenos Aires onde vive com sua companheira Fabiola Sánchez, atriz e jornalista cultural.
Antes da derrota, Macri dizia estar tranquilo. "Tudo o que tínhamos para pôr no coração, nós colocamos", declarou.
De acordo com o resultado das prévias, seu partido também deve perder o comando da província de Buenos Aires, a mais importante do país. (Com agências internacionais)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.