"O nacionalismo é uma atitude de isolamento. Estou preocupado, porque ouvimos discursos que lembram os de Hitler em 1934. ;Primeiro nós. Nós... nós...;: estes são pensamentos aterrorizantes", afirmou o pontífice.
Concedida dias antes da crise do governo protagonizada por Salvini, entre os líderes europeus da corrente nacionalista junto com o húngaro Viktor Orban e a francesa Marine Le Pen, a entrevista do papa argentino acontece em um momento delicado da política italiana.
"Um país deve ser soberano, mas não fechado. A soberania deve ser defendida, mas as relações com outros países e com a Comunidade Europeia também devem ser protegidas e promovidas. O nacionalismo é um exagero que sempre acaba mal: leva a guerras", acrescentou.
Questionado sobre o populismo, o papa, que vivenciou os anos de Domingo Perón em seu país, explicou que essa prática também "fecha as nações", caso do nacionalismo.
"No começo, não conseguia entender, porque, estudando Teologia, eu aprofundava o popularismo, isto é, a cultura do povo: uma coisa é que o povo que se expresse, e outra é impor ao povo a atitude populista. O povo é soberano (tem seu jeito de pensar, de se expressar e de sentir, de avaliar), mas os populismos nos levam ao nacionalismo: esse sufixo, ;ismos;, nunca faz bem", insistiu.
Na entrevista, conduzida por Domenico Agasso, o pontífice falou também sobre Europa, Amazônia e meio ambiente.
"A Europa não deve ser desfeita, devemos salvá-la. Ela tem raízes humanas e cristãs. Uma mulher como Ursula von der Leyen pode reviver a força dos Pais Fundadores", disse ele, em referência à nova presidente da Comissão Europeia, eleita em 2 de julho passado.
Francisco também mencionou várias catástrofes ambientais, falou sobre a perda dos recursos do planeta e relembrou uma reunião recente com pescadores que lhe disseram que coletaram seis toneladas de plástico nos últimos meses.