Os americanos ainda tentavam entender ontem a razão para um atirador com um fuzil ter assassinado 20 pessoas em um centro comercial no sábado, no Texas, quando um homem com colete a prova de balas matou 9 frequentadores de um bar em Ohio, incluindo sua irmã.
Mesmo para os padrões americanos, onde ataques a tiro contra alvos indiscriminados são rotineiros, a ocorrência de duas ações do tipo em 13 horas, com 29 mortos no total, levantou questões sobre o acesso a armas e o discurso de ódio nos EUA. O país terá eleições no ano que vem e as críticas democratas à inação ou papel do presidente Donald Trump ganham corpo na campanha.
A ação em El Paso, em um centro comercial a 4,5 quilômetros do México, na qual o atirador deixou um manifesto anti-imigrante, levou a um debate sobre a retórica do presidente e alguns de seus apoiadores de direita contra imigrantes na fronteira sul. Dos 20 mortos, 6 eram mexicanos.
Autoridades disseram estar investigando o ataque como um possível crime de ódio e buscarão pena de morte para o autor no Estado que mais executa nos EUA. Em um manifesto, o atirador expressa simpatia pelo homem que matou 51 em uma mesquita na Nova Zelândia em março. Ele viajou mais de mil quilômetros da sua cidade, Dallas, para cometer o ataque.
O argumento de que Trump incita a violência no país repetiu-se entre os pré-candidatos democratas nas TVs e jornais. O candidato Beto ORourke, que é de El Paso, disse haver um aumento dos crimes de ódio no país nos últimos três anos. Trump já se referiu aos imigrantes como "estupradores e criminosos".
"Além dos imigrantes mexicanos cometerem crimes em um índice muito menor do que os nascidos nesse país, ele (Trump) tenta fazer com que fiquemos com medo deles, com efeito e consequências reais", disse ORourke.
A polícia, que fazia uma ronda nos arredores, matou o atirador em 30 segundos. Ele usava um colete a prova de balas e um fuzil calibre .223 comprado pela internet no Texas e levado até o atirador por meio de um negociante de armas de Ohio.
O presidente americano, que passava o fim de semana em seu clube de golfe em New Jersey, retornou à Casa Branca ontem mais cedo por causa dos ataques, que ele afirmou terem sido cometidos por doentes mentais. Embora tenha trabalhado no ano passado para proibir os bump stocks - acessório que modifica armas semiautomáticas e permite que sejam disparadas rajadas -, Trump defende a Segunda Emenda da Constituição, que garante o acesso às armas. Tentativas de administrações anteriores, como a de Barack Obama, de ao menos tornar mais restrito o acesso a armas, fracassaram.
O líder democrata no Senado, Chuck Schumer, pediu ao líder da maioria republicana, Mitch McConnell, para que convocasse uma reunião de emergência sobre um projeto de lei aprovado pela Câmara que institui a checagem de antecedentes para se adquirir uma arma. Em 2012, o Congress Research Institute estimou que havia 300 milhões de armas no país, quase uma por habitante.
Terrorismo
O governo do México anunciou no domingo que estuda denunciar por terrorismo contra mexicanos em território americano o autor do tiroteio em El Paso, bem como um eventual pedido de extradição. Segundo o chanceler mexicano, Marcelo Ebrard, outros sete mexicanos tiveram ferimentos consideráveis. Ele acrescentou que a chancelaria também irá empreender ações legais contra os responsáveis por vender a arma ao autor do massacre, e indagará se as autoridades "conheciam as potencialidades desse indivíduo". (com agências internacionais)