Os norte-americanos ainda choravam os mortos do massacre em El Paso, no Texas, quando chegou a notícia de outro tiroteio em massa; dessa vez, em Dayton, Ohio. Em um intervalo de menos de 13 horas, 29 pessoas foram vítimas de dois episódios de um tipo de crime que está se tornando cada vez mais comum no país ; até ontem, houve mais mass shootings nos Estados Unidos do que dias do ano. Foram 251 desde janeiro, deixando um saldo de 275 mortos. As tragédias trouxeram novamente à luz o debate sobre armas de fogo e deram combustível à já incendiária retórica do presidente Donald Trump.
Sem responder às críticas dos pré-candidatos democratas à Presidência, que o responsabilizam pelo aumento da violência com armas de fogo, Trump mandou hastear as bandeiras a meio pau e, como vêm fazendo os republicanos, atribuir os tiroteios à saúde mental dos atiradores. Em Washington, antes de embarcar para o estado de Nova Jersey, o governante falou com jornalistas e admitiu a necessidade de mais medidas para tentar conter a escalada de tiroteios em massa. ;Muita coisa está sendo feita, e nossa administração fez mais que as outras, mas talvez tenha mais a ser feito;, declarou, sem, contudo, especificar as ações. ;Temos que fazer algo para deter isso. Isso ocorre há anos e anos em nosso país;, afirmou.
Racismo
No Texas, as autoridades locais anunciaram que vão pedir a pena de morte para o agressor de El Paso, um homem branco de 21 anos, que teria uma motivação racista para realizar a agressão, segundo a polícia. A cidade texana, que faz fronteira com o México, é predominantemente hispânica e foi palco de um tiroteio por volta das 11h locais, que deixou 20 mortos, em um centro de compras. De acordo com a Justiça Federal, o caso é tratado como terrorismo doméstico.
Quando o atirador abriu fogo indiscriminadamente contra as pessoas que estavam no supermercado Walmart, a loja estava cheia de clientes, principalmente hispânicos. Entre os mortos, há seis mexicanos. A polícia investiga um manifesto publicado numa rede social que foi atribuído ao criminoso, no qual o autor descreve ;uma invasão hispânica do Texas; e evoca o massacre perpetrado por um supremacista branco em mesquitas em Christchurch, Nova Zelândia, em 15 de março, que deixou 51 mortos.
O governo do México disse ontem que será necessário tomar medidas legais ;contundentes; para exigir que os Estados Unidos protejam seus cidadãos naquele país. ;Será uma avaliação que ficará a cargo da Procuradoria Geral da República solicitar ; se houver os elementos necessários ; a extradição do autor ou dos autores desse fato (...) Será uma decisão a ser tomada no devido momento, mas que ninguém se surpreenda, porque, para o México, esse indivíduo é um terrorista;, disse o chanceler mexicano, Marcelo Ebrard.
Donald Trump foi questionado por repórteres sobre o possível caráter racista do crime, mas não respondeu diretamente a pergunta, dizendo, apenas, que ;não há lugar para o ódio; nos Estados Unidos. Já a pré-candidata democrata Elizabeth Warren acusou o presidente diretamente por incitação à violência contra estrangeiros. ;Deve ser dito que o próprio presidente promove o racismo e a supremacia branca;, disse. A mesma opinião foi emitida pelo também pré-candidato democrata Beto O;Rourke, oriundo de El Paso. Segundo ele, Trump ;atiça o racismo; nos EUA, com uma retórica anti-imigrante.
Fuzil
Treze horas depois da chacina em El Paso, um homem levou pânico a uma área de lazer de Dayton, em Ohio. Matou nove pessoas, entre elas a própria irmã, e feriu outras 27 em menos de um minuto, antes de ser abatido a tiros pela polícia que patrulhava a área. Connor Betts, um homem branco de 24 anos, usou um fuzil equipado com carregadores de alta capacidade, tinha munições adicionais e vestia um colete à prova de balas. Seis vítimas eram negras, mas não se sabe, até agora, se houve motivações racistas.
Nos Estados Unidos, onde a compra e o porte de armas não são regulados, ocorrem com frequência tiroteios em escolas, assim como em locais de culto, trabalho e entretenimento. Como sempre acontece após uma tragédia do tipo, várias vozes se levantaram para exigir melhor regulamentação do mercado de armas de fogo. ;É hora de agir e acabar com essa epidemia de violência armada;, postou no Twitter o pré-candidato democrata Joe Biden. Mas muitos republicanos têm preferido, assim como Donald Trump, focar nos supostos problemas de saúde mental dos atiradores.
Bolsonaro defende política armamentista
Os dois ataques feitos por atiradores em cidades dos Estados Unidos no fim de semana foram lamentados pelo presidente Jair Bolsonaro, que voltou a defender uma política armamentista no Brasil para evitar que situações parecidas ocorram no país. Segundo ele, ;o Brasil é, no papel, extremamente desarmado;. Falando aos jornalistas em frente ao Palácio da Alvorada, ele desvinculou a permissividade com porte e posse de armas a um tipo de crime que já deixou 275 mortos nos EUA, de janeiro a ontem. ;Lamento, (os massacres) já aconteceu no Brasil também. Lamento. Agora, não é desarmando o povo que você vai evitar isso aí;, afirmou.
Tiroteios em série / Algumas das piores chacinas ocorridas nos últimos anos nos Estados Unidos
Show em Las Vegas
Um homem de 64 anos fez disparos seguidos da janela de seu quarto em um hotel contra uma multidão que assistia a um show de música country, em outubro de 2017. O ataque deixou 58 mortos e cerca de 500 feridos. O atirador se suicidou.
Boate gay em Orlando
Um jovem fortemente armado abriu fogo dentro de uma boate gay, em 12 de junho de 2016, matando 49 pessoas. O atirador foi abatido em uma troca de tiros com a polícia. Ele havia jurado obediência ao Estado Islâmico.
Escola Sandy Hook
Em 14 de dezembro de 2012, um jovem de 20 anos matou 26 pessoas, sendo 20 das vítimas crianças com idade de 6 e 7 anos, na Escola de Sandy Hook, em Newtown, Connecticut. Depois do massacre, o atirador se matou.
Igreja de Sutherland, Texas
Um homem matou 25 fiéis e feriu outros 20 que participavam de um ato religioso em uma igreja batista da comunidade rural de Sutherland Springs, em 5 de novembro de 2017. A polícia encontrou o corpo do atirador no carro dele.
Escola de Ensino Médio na Flórida
Um jovem de 19 anos disparou contra alunos e adultos na escola Marjory Stoneman Douglas, em Parkland, na Flórida, em 14 de fevereiro de 2018. O ataque deixou 17 mortos. O atirador foi preso.
Festa em escritório na Califórnia
Um casal de imigrantes muçulmanos invadiu uma festa de funcionários em um escritório de serviços sociais em San Bernardino, na Califórnia, em 2 de dezembro de 2015, e abriu fogo, matando 14 pessoas e deixando 22 feridos. Os dois foram mortos pela polícia.
Cinema no Colorado
Usando uma armadura, um jovem invadiu um cinema em Aurora, Colorado, em julho de 2012, lançou uma bomba de gás lacrimogêneo e abriu fogo: 12 morreram e 70 ficaram feridos. Foi condenado à prisão perpétua.
Thousand Oaks
Em 7 de novembro de 2018, Ian Long, um ex-soldado fichado pela polícia por problemas psíquicos, abriu fogo em um bar lotado em Thousand Oaks, perto de Los Angeles, e matou 12 pessoas. Em seguida, cometeu suicídio.
Virginia Beach
Em 31 de maio de 2019, um funcionário municipal fortemente armado de Virginia Beach, no estado de Virginia, abriu fogo contra os colegas e matou 12 pessoas. Acabou morto durante um tiroteio com a polícia.
Sinagoga em Pittsburgh
Em 27 de outubro de 2018, um homem de 46 anos entrou na sinagoga Árvore da Vida com um fuzil de assalto AR-15 e três pistolas. O atirador matou 11 fiéis nos serviços de Shabat e feriu outros seis, entre eles quatro policiais.
Escola de Santa Fé
Um estudante de 17 anos matou dois adultos e oito jovens em uma escola do ensino médio de Santa Fé (Texas),
em 18 de maio de 2018, usando um fuzil ilegal que seu pai tinha em casa. Dimitrios Pagourtzis pode ser condenado à morte.