O presidente interino da Administração Nacional de Eletricidade do Paraguai (Ande), Fabián Cáceres, afirmou que a adesão do governo do presidente Mario Abdo Benítez ao acordo bilateral de Itaipu foi "mais política do que técnica" e a estatal de energia paraguaia não participou das negociações do acerto fechado em maio com o governo brasileiro.
A ata foi anulada nesta quinta-feira, 1, após seus termos provocarem uma crise política que ameaçava o presidente paraguaio de impeachment. "O acordo não teve participação da Ande. A chancelaria brasileira tinha o apoio dos técnicos da Eletrobrás e de Itaipu, enquanto que a representação do Paraguai não tinha corpo técnico. Realmente, a decisão final foi mais política do que técnica. Acho que pessoas que estiveram nessa reunião não dimensionaram o que estavam assinando. O nível de contratação ali era muito elevado e causaria um sobrepreço da compra de energia para o Paraguai da ordem de US$ 350 milhões em quatro anos", afirmou Cáceres em entrevista ao Estado.
Diretor técnico da Ande, ele pediu demissão na semana passada em solidariedade ao então presidente da estatal, Pedro Ferreira, que renunciou ao cargo por discordar dos termos do acordo. Mas como o sucessor de Ferreira, Alcides Jiménez, também pediu demissão no domingo, após poucos dias no cargo, a exoneração de Cáceres não foi deferida e ele agora acumula a presidência da Ande interinamente.
Por telefone, ele afirmou que o acordo "não continha nenhum benefício para o Paraguai" e não descartou a possibilidade de que empresários brasileiros tenham feito um lobby junto ao governo paraguaio para a retirada de uma cláusula do acordo que era defendida pela Ande: a possibilidade de a estatal paraguaia vender energia excedente de Itaipu dentro do mercado brasileiro. "Isso (lobby) é uma possibilidade. O (ex) presidente da Ande (Pedro Ferreira) manifestou que isso pode ter acontecido. Eu não vi e não posso falar a respeito. Ouvi isso pela imprensa", afirmou.
Segundo o jornal paraguaio ABC Color, o advogado José Rodríguez González interferiu em uma reunião com empresários brasileiros para que essa cláusula fosse retirada do acordo. Ligado ao vice-presidente Hugo Velázquez, ele teria atuado para beneficiar a empresa brasileira Léros Comercializadora de Energia. O encontro teria ocorrido no dia 10 de maio, em Ciudad del Leste, e contado com a participação do empresário Alexandre Giordano, suplente do senador Major Olímpio (PSL-SP).
Em um áudio divulgado pelo veículo paraguaio, Rodríguez fala que Giordano se apresentou como senador na reunião e teria respaldo do governo do presidente Jair Bolsonaro.
Ao jornal O Estado de S. Paulo, Giordano confirmou ter participado de uma reunião no Paraguai com a Ande ao lado de um representante da Léros, mas para tratar do interesse de um leilão de energia elétrica aberto pela estatal paraguaia. Ele negou ter usado no encontro uma suposta influência no governo Bolsonaro. "Meu contato com a família Bolsonaro é zero. Fui lá em interesse da minha empresa, não tem nada a ver com o acordo de Itaipu", afirmou Giordano, que tem empresas de terraplenagem e estrutura metálica parceiras da Léros há quatro anos.
Sócio da Léros, o empresário Kléber Ferreira também afirmou que o interesse da empresa na reunião no Paraguai era a compra de energia. "Enviamos um representante por causa do chamamento público aberto pela Ande. Foi uma reunião de 15 minutos, que envolveu empresários de outros países, sem nenhuma relação com o acordo. Foi uma coincidência de fatos."
Cáceres disse que embora uma possível entrada da Ande no mercado brasileiro desagradasse aos empresários, os termos do acordo não foram discutidos na reunião com a Léros. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.