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Brasil e Paraguai anulam acordo de Itaipu que detonou crise política

Assinado em maio passado, acordo desencadeou uma crise política para o governo do presidente Mario Abdo

Assunção, Paraguai ; Paraguai e Brasil decidiram anular um ato bilateral para a distribuição de energia hidrelétrica de Itaipu, assinado em maio passado, e que desencadeou uma crise política para o governo do presidente Mario Abdo, informaram fontes oficiais.

O documento "será devolvido às instâncias técnicas para a negociação da contratação de energia elétrica da Itaipu Binacional", afirma um comunicado oficial divulgado nesta quinta-feira.

O pedido para cancelar o ato bilateral veio do governo de Abdo, após a rejeição que provocou no Paraguai e que levou a oposição a anunciar que iria exigir seu impeachment.

Após essa anulação, o pedido que deve ser feito ante o congresso perde força.

Em uma mensagem à nação, Abdo agradeceu aos que o apoiaram na crise, incluindo o presidente brasileiro Jair Bolsonaro.

"A democracia triunfou", disse ele.
As autoridades de ambos os países ordenaram que as instâncias técnicas retomassem as reuniões para definir o cronograma de energia contratado pela empresa brasileira Electrobras e a paraguaia Ande para a distribuição da energia elétrica da usina hidrelétrica binacional de Itaipu aos dois países no período de 2019- 2022.

Segundo alguns especialistas, o acordo teria causado uma perda de mais de 200 milhões de dólares para o Paraguai.

Brasil expressa apoio

O Brasil expressou seu apoio ao presidente paraguaio Mario Abdo e destacou a "convergência de valores" entre o governo paraguaio e o de Jair Bolsonaro. "O Brasil acompanha com grande atenção os acontecimentos no Paraguai que envolvem o processo de ;juízo político; contra o Presidente Mario Abdo Benítez", afirma um comunicado do Itamaraty.

"O desenvolvimento do Paraguai e sua participação ativa como valioso membro do Mercosul e da comunidade hemisférica é de enorme interesse para o Brasil, e o Governo brasileiro está convencido de que o Presidente Mario Abdo reúne todas as condições para continuar conduzindo esse projeto", afirma ainda o texto.

Também destaca "a inteira convergência de valores que se verifica hoje entre os dois Governos no que concerne à promoção da democracia na região e à proteção dos direitos da família".

O Brasil espera que essa cooperação com o Presidente Mario Abdo possa prosseguir, o que permitirá a plena implementação das iniciativas em curso e a consecução de novos avanços, inclusive no que tange à implementação, em benefício mútuo, dos compromissos dos dois países ao amparo do Tratado de Itaipu", acrescenta.

A oposição paraguaia anunciou na quarta-feira que vai pedir a destituição de Abdo e seu vice-presidente Hugo Velázquez, sob acusação de "traição" por ter assinado o acordo de Itaipu com o Brasil, que analistas dizem que deve aumentar os custos de eletricidade por cerca de 200 milhões de dólares para Assunção.

A revelação desse acordo provocou a renúncia do ministro das Relações Exteriores do Paraguai, Alberto Castiglioni, e do presidente da estatal Ande, entre outros funcionários.

Visita ao Brasil

O novo ministro das Relações Exteriores, Antonio Rivas, é esperado entre quinta e sexta-feira em Brasília. Bolsonaro declarou que está aberto a discutir com o Paraguai. "Lá vocês sabem como funciona, né? Lá é muito rápido o impeachment", afirmou.

Otávio Rêgo Barros, porta-voz de Bolsonaro, disse que "o Brasil está aberto para discutir os termos do acordo que busca o benefício dos dois países".

Em uma reunião com Abdo, em fevereiro, em Itaipu, Bolsonaro homenageou as ditaduras que governaram os dois países por ocasião da construção da barragem, a segunda maior do mundo, que se encontra em suas fronteiras.

"Meu tributo vai para o general Alfredo Stroessner (ditador do Paraguai por 35 anos, entre 1954 e 1989)", afirmou Bolsonaro.