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Da robótica ao cérebro biônico

O chip capaz de imitar o processo de formação de memórias também pode realizar operações lógicas, como processamento de informações, outra funcionalidade do cérebro. Segundo os criadores, o chip é compatível com os componentes eletrônicos existentes e também pode ser usado em plataformas flexíveis e vestíveis, bem como ser implantado em eletrônicos portáteis.

;A capacidade de replicar o comportamento neural em um chip artificial oferece pistas interessantes para pesquisas em vários setores, como a optogenética, a neurociência, a robótica e a engenharia eletrônica;, aponta Taimur Ahmed, principal autor do estudo e pesquisador da Escola de Engenharia da Universidade de RMIT, na Austrália

Os cientistas também esperam que a tecnologia possa interagir com tecidos vivos, dando origem a dispositivos biônicos, como implantes de retina humana artificiais. ;Isso também nos traz um passo importante para a realização de um cérebro biônico. Um chip cerebral que pode aprender com o ambiente da mesma forma que os humanos;, acrescenta Ahmed.

De acordo com os cientistas, os testes realizados foram animadores, mas seguem explorando a aplicação do chip em cenários reais. ;Esse chip está em estágios iniciais e requer muito trabalho antes de poder ser comercializado;, explica Sumeet Walia, um dos autores do estudo e docente da Escola de Engenharia da universidade australiana. Como o desenvolvimento do dispositivo foi realizado seguindo o protocolo padrão da indústria eletrônica, os pesquisadores esperam que o custo esteja na faixa de chips eletrônicos já comercializados.

Novos computadores

Adson da Rocha, professor de engenharia biomédica e elétrica da Universidade de Brasília (UnB), acredita que a tecnologia poderá contribuir para o desenvolvimento de computadores que funcionem de forma semelhante aos sistemas neurais biológicos, auxiliando, por exemplo, no controle de próteses e na construção de outras tecnologias relevantes. ;O novo chip pode vir a permitir novos desenvolvimentos não somente na medicina, mas na ciência da computação em geral, possibilitando que outros tipos de computadores, com aplicações diferentes dos atuais, possam vir a ser desenvolvidos;, aposta.

O especialista avalia que o real potencial da tecnologia ainda não está totalmente claro e há muito o que ser explorado. ;É interessante que a tecnologia seja inspirada em formas de funcionamento do sistema de processamento neural humano, o que me leva a especular sobre possibilidades futuras de aplicações, inclusive na medicina. Porém, acho que teremos que esperar mais alguns anos para ter uma noção clara das possibilidades reais;, ressalta o professor Adson da Rocha. (CM*)