Sob protestos dos moradores e a despeito de críticas das Nações Unidas e da União Europeia (UE), Israel começou ontem a demolição de 10 edifícios ao sul de Jerusalém, na Cisjordânia, classificados como ilegais por terem sido construídos ;perto demais; do muro erguido para separar a Cidade Santa do território palestino. Cerca de 700 policiais e soldados cercaram os imóveis, na área de Tsur Baher, retiraram os moradores e afastaram os jornalistas antes de as escavadeiras colocarem abaixo as construções. Um prédio de oito andares, ainda por concluir, foi derrubado com explosivos.
;Quando a casa for destruída, estaremos na rua;, lamentou Ismail Abadiyeh, 42 anos, que mora com os quatro filhos em um dos edifícios. ;Eu quero morrer aqui;, gritou outro morador, depois de ser evacuado à força. Os habitantes de Tsur Baher temem que outros 100 edifícios do bairro estejam em risco. As autoridades israelenses frequentemente destroem o que consideram construções ilegais de casas palestinas em Jerusalém Oriental e na Cisjordânia.
A Autoridade Palestina (AP), que denuncia uma ofensiva sistemática de Israel para expandir a colonização judaica na Cisjordânia, alertou para os riscos de ;uma escalada perigosa contra o povo palestino indefeso;, como afirmou no Twitter o seu presidente, Mahmud Abbas. ;Essa operação busca cortar a ligação entre Jerusalém e Belém (no sul da Cisjordânia);, apontou WalidAssaf, o ministro da AP encarregado de monitorar os assentamentos no território, ocupado pelos israelenses na guerra de 1967 e sob administração palestina desde os acordos de paz de 1993. ;Primeiro, Israel ocupa a terra militarmente. Depois, constrói aquele muro horrível do ;apartheid; e decide demolir as casas palestinas, construídas em terras palestinas com autorização judicial palestina, alegando a proximidade do muro;, reforçou a dirigente nacionalista Hanan Ashrawi.
O ministro israelense da Segurança Pública, Gilad Erdan, acusou os palestinos de ;mentirem; e alegou que as demolições foram endossadas pela Suprema Corte de Israel, após um longo processo. ;As estruturas foram construídas ilegalmente, perto da barreira de segurança, e constituem um risco para a vida de civis e de integrantes das forças de segurança;, tuitou Erdan. Em 18 de junho, as autoridades israelenses informaram aos moradores do Bairro de Tsur Baher sobre a intenção de demolir suas casas no prazo de 30 dias.
O Gabinete para a Coordenação dos Assuntos Humanitários (Ocha), das Nações Unidas, afirma que a decisão israelense se aplica a 10 edifícios, a maioria em construção, com um total de 70 apartamentos. A demolição afetará 350 pessoas, segundo o organismo. ;O deslocamento, principalmente dos mais vulneráveis, é traumático e tem consequências duradouras;, alertou o Ocha, em nota, antes do início da operação. A União Europeia (UE) pediu a Israel que ;pare imediatamente com as demolições em andamento;, pois elas ;enfraquecem a viabilidade da solução de dois Estados e as perspectivas de uma paz duradoura;. A Anistia Internacional denunciou a medida como ;parte de uma política sistemática para deslocar à força os palestinos;.
O muro foi erguido a partir de 2002, em meio à segunda intifada (levante palestino contra a ocupação), e se estende por toda a fronteira com a Cisjordânia, mas avança pelo território nas imediações de Jerusalém. Colônias judaicas se expandem a partir do setor oriental (árabe) da cidade, anexado por Israel sem reconhecimento internacional.
;O deslocamento, principalmente dos mais vulneráveis, é traumático e tem consequências duradouras;
Nota do Gabinete para Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU
;As estruturas foram construídas ilegalmente e constituem um risco para a vida de civis e de integrantes das forças de segurança;
Gilad Erdan, ministro da Segurança Pública de Israel