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Partido do presidente ucraniano conquista maioria absoluta no Parlamento

Esta seria a primeira vez que um partido obtém tal maioria em legislativas desde a independência desta antiga república soviética às portas da União Europeia.

Os ucranianos deram carta branca para seu novo presidente, Volodimir Zelenski, ao permitir que seu partido alcançasse uma maioria absoluta no Parlamento nas eleições legislativas realizadas no domingo.

Três meses depois da triunfal eleição deste ex-ator novato na política, prometendo "romper com o sistema", sua formação obteve um resultado sem precedentes para formar um governo e reformar o país, imerso em um conflito armado com os separatistas pró-russos e em grave dificuldade econômica.

O partido pró-ocidental Servo do Povo, chamado como a série de televisão em que o próprio Zelenski interpretou um presidente, obteve 42,4% dos votos, de acordo com os resultados publicados pela comissão eleitoral após a apuração de quase metade dos votos.

Segundo as projeções de vários meios de comunicação ucranianos, este resultado inicial, somado aos votos locais, permite-lhe obter pelo menos 226 assentos de um total de 450 no Parlamento de câmara única.

Esta seria a primeira vez que um partido obtém tal maioria em legislativas desde a independência desta antiga república soviética às portas da União Europeia.

Quatro outras formações ultrapassaram os 5% dos votos necessários para entrar no Parlamento - o pró-russo Plataforma de Oposição (12,8%), seguido por três formações pró-ocidentais: Solidariedade Europeia, do ex-presidente Petro Poroshenko (8,7%), Patria, da ex-primeira-ministra Yulia Tymoshenko (8%) e o partido Golos (Voz), fundado em maio pelo astro do rock ucraniano Sviatoslav Vakarchuk (6,4%).

De um total de 450 assentos, 26 não serão ocupados na Crimeia, a península ucraniana anexada pela Rússia em 2014, e nos territórios separatistas.

Fim à guerra

Na sede eleitoral de seu partido, Zelenski definiu no domingo "suas principais prioridades": o fim da guerra com os separatistas pró-russos no leste do país, que matou 13 mil pessoas em cinco anos, e a luta contra a corrupção.

"Nós não vamos abandonar os ucranianos", disse ele.

Logo depois que tomou posse, Zelenski, especialista das redes sociais e com uma personalidade que rompe com o estilo tradicional de seus antecessores, dissolveu o Parlamento e convocou eleições legislativas antecipadas.

Sem uma maioria parlamentar, ele não poderia eleger um primeiro-ministro ou empreender reformas reais.

Zelenski disse à tarde que tinha "várias candidaturas" para o cargo de chefe de governo e destacou que deveria ser "um novo rosto" e "um especialista em economia".

Sua vitória e a de seu partido refletem o desapontamento dos ucranianos com suas elites, consideradas corruptos e incapazes de acabar com a guerra e melhorar o padrão de vida em um dos países mais pobres da Europa.

A entrada de Golos no Parlamento também supõe uma grande renovação da classe política, apesar da grande mudança que provocou a revolução pró-ocidental de Maidan, que levou cinco anos atrás à destituição de um poder pró-russo.

O partido presidencial e o Golos se apresentam como representantes de uma nova geração, chegando a proibir a entrada em suas listas de deputados antigos e privilegiando candidatos novatos cuja idade média é de 37 anos.

Graças à presença maciça de jovens candidatos sem experiência política, o Parlamento ucraniano será em grande parte formado por novos rostos.

Uma guinada para esta antiga república soviética, até agora dominada por elites que cresceram na URSS.