Jornal Correio Braziliense

Mundo

Mais discórdia no plenário

Um socialista italiano é eleito para comandar o parlamento continental, mas a partilha dos cargos principais do bloco, acertada pelos chefes de governo, desagrada deputados e causa incômodo no governo alemão


A União Europeia UE) completou ontem o ciclo da nomeação dos novos titulares dos postos de comando, com a eleição do social-democrata italiano David Sassoli para presidir o Parlamento Europeu. Mas o acerto entre os governantes da Alemanha e da França, que lideram o bloco, e entre as principais bancadas no plenário de Estrasburgo, ao fim de uma maratona de negociações, deixou marcas não apenas no fragmentado cenário político do continente. A chanceler (chefe de governo) alemã, Angela Merkel, embora tenha colocado uma correligionária de confiança na presidência da Comissão Europeia (CE, braço executivo da UE) ; o posto mais cobiçado ;, administra agora uma mal-estar no seu governo de coalizão.

;Esta legislatura deverá fazer uma mudança possível e necessária, para fazer com que a Europa seja mais moderna;, afirmou Sassoli, 63 anos e jornalista de formação, ao apresentar a candidatura aos demais 790 eurodeputados. Ele ficou a oito votos da maioria na votação inicial, e se impôs na segunda com 345 votos, superando a ecologista alemã Ska Keller (119), o eurocético tcheco Jan Zahradil (160) e a espanhola Sira Rego (43), da esquerda radical. Jornalista desde 1980, ingressou na política em 2009, no Partido Democrático, sucessor do Partido Comunista Italiano. Eurodeputado desde 2009, Sassoli ocupou na última legislatura a vice-presidência do Parlamento Europeu.

Como parte do acordo selado entre os governantes do bloco, na véspera, o Partido Popular Europeu (PPE, centro-direita), que tem a maior bancada em Estrasburgo, não apresentou candidato ; é ao PPE que pertence a indicada para presidir a CE, Ursula von der Leyen, ministra alemã da Defesa. Mas a solução não contentou totalmente os socialistas, que tiveram vetado seu candidato ao cargo e foram preteridos pelo liberal Charles Michel, premiê da Bélgica, na presidência do Conselho Europeu, fórum que reúne os chefes de Estado e de governo do bloco.

Os liberais, que formam a terceira bancada, tiveram de ser incluídos na partilha dos cargos para garantir a ratificação das indicações pela Eurocâmara, em votação prevista para o próximo dia 15. A eleição de maio para a renovação do parlamento continental acabou com a maioria mantida há décadas pelo PPE e pela centro-esquerda, com a ascensão dos liberais e ecologistas. Excluídos do acerto, os verdes criticaram o método. ;A presidência do parlamento não deve ser uma moeda de troca na negociação dos postos de responsabilidade na UE;, protestou a candidata verde, Ska Keller.

Merkel
Alemanha e França reafirmaram, na remontagem do comando executivo, sua posição de forças dominantes na UE. Mesmo assim, o acordo fechado entre os governantes criou problemas domésticos para a chanceler Angela Merkel. O Partido Social-Democrata (SPD), parceiro na coalizão de governo, questionou diretamente a escolha para a CE de Ursula von der Leyen, classificada como ;a ministra mais fraca; do gabinete por Martin Schulz, ex-presidente do Parlamento Europeu, derrotado por Merkel na eleição legislativa de 2017. Sigmar Gabriel, ex-líder do SPD, condenou a manobra da chanceler como ;uma armadilha; e sugeriu que o partido deveria romper com o governo.

O mal-estar se estendeu à União Social Cristã (CSU), partido-irmão da União Democrata Cristã (CDU), de Merkel. O nome inicial do PPE para presidir a CE era Manfred Weber, da CSU. Vetado pelo presidente da França, Emmanuel Macron, ele foi trocado pela ministra da Defesa, que nem sequer foi candidata à Eurocâmara. ;É uma pena que a democracia tenha perdido para a política de bastidores;, criticou o líder da CSU, Markus S;der.


;A presidência do parlamento não deve ser uma moeda de troca na negociação dos postos de responsabilidade a UE;

Ska Keller, candidata dos verdes ao comando da Eurocâmara