No leito do Hospital Central de San Cristóbal, no estado de Táchira (sudoeste da Venezuela), um jovem de 16 anos com o rosto desfigurado lamenta: ;Eu quero morrer, eu quero morrer!”. Rufo Chacón está completamente cego. Dos 52 tiros de chumbinho de plástico disparados à queima-roupa por um policial, oito acertaram-lhe o olho direito, cinco o esquerdo. Chacón e a mãe, Adriana Parada, participavam de uma manifestação contra a falta de gás, em Táriba, a 10 minutos de San Cristóbal. Às 17h30 (18h30 em Brasília) de segunda-feira, vários vizinhos protestavam na Autopista San Cristóbal-La Fría contra o fato de estarem há três meses sem fornecimento de gás doméstico. Alguns deles retiraram os botijões de casa e os colocaram na via.
;A ideia era manter o bloqueio da rodovia por apenas 15 minutos e pressionar a estatal PDVSA a reabastecer a comunidade;, afirmou ao Correio Juan Palencia, deputado da Assembleia Nacional (opositora) pelo partido Acción Democrática. ;A Polícia Nacional Bolivariana e a Politáchira (polícia de Táchira) chegaram disparando chumbinho de plástico e gás lacrimogêneo, sem dizer nada. Converteram um protesto pacífico em ato de sangue, sem levar em conta os protocolos policiais para manejo de manifestações desse tipo.;
Segundo Palencia, um dos policiais aproximou a escopeta do rosto de Rufo e disparou. ;Ele foi submetido a uma cirurgia para a remoção dos globos oculares, a fim de prevenir infecções.; O parlamentar não crê na punição do agente. ;Isso ficará na impunidade. O promotor do Ministério Público colocou um ex-policial como o responsável pela investigação.; O procurador-geral Tarek William Saab anunciou que dois policiais foram detidos e ;serão severamente punidos por esta violação; dos direitos humanos.
;Quero justiça, justiça, justiça;, repetia Adriana Parada, mãe de Rufo, do lado de fora do hospital. ;Meu filho perdeu os olhos apenas por me ajudar a pedir o gás de que precisamos;, desabafou, entre lágrimas. ;Arruinaram a vida dele, meu filho quer morrer;, acrescentou, ao explicar que o jovem ajudava no orçamento da casa consertando celulares. Em entrevista à agência France-Presse, o médico Luis Ramírez, chefe da equipe de especialistas que atende a Rufo, confirmou que ;o garoto recebeu 52 disparos no rosto, o que levou, posteriormente, a perder completamente a visão;.
Sob condição de anonimato, um vizinho e amigo da família de Rufo denunciou ;um ato de covardia totalmente desnecessário;. ;Não entendo como ele pôde ser vítima de crime tão aberrante, quando em suas mãos tinha apenas um botijão de gás;, lamentou ao Correio. ;Rufo é um garoto muito saudável, caseiro, apaixonado pela tecnologia. Ele se formaria no fim deste mês. Apesar da tenra idade, domina a arte de consertar computadores e telefones celulares, além da programação. Seu sonho era estudar engenharia eletrônica;, disse. O vizinho estava no protesto e presenciou o ataque. De acordo com ele, Rufo; o irmão Adrian; e a mãe carregavam os botijões quando policiais tentaram tirá-los à força. ;O menino lutou para que não os levassem. Nesse momento, o agente disparou a escopeta. O irmão de Rufo recebeu uma coronhada na cabeça.;
O presidente autoproclamado da Venezuela, Juan Guaidó, comentou o caso e citou outras vítimas da repressão. ;Não nos acostumaremos, não deixaremos de chamá-los de assassinos. Não nos acostumaremos com Geraldine, nem com Alban, nem com Acosta Arévalo, nem o faremos com o sádico ato contra os olhos de Rufo Chacón;, declarou. Luis Almagro, secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), condenou o ;covarde atentado contra Rufo Chacón, cego por exigir pacificamente seus direitos.;
;Condenamos o covarde atentado contra Rufo Chacón, cego por exigir pacificamente seus direitos. O usurpador ordena a repressão desumana ao seu povo. Exigimos justiça para Rufo e democracia para a Venezuela e todos os venezuelanos;
Luis Almagro, secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA)
Eu acho...
;Nós condenamos e rechaçamos essa atitude hostil, brutal e violatória dos direitos humanos. Rufo Chacón ia se formar no ensino secundário dentro de duas semanas e seus sonhos foram destruídos. Os corpos repressivos policiais estão cegando e mutilando jovens.;
Juan Palencia, deputado da Assembleia Nacional (opositora) pelo partido Acción Democrática