Legitimidade questionada
É inquestionável o poder da imagem de Donald Trump cruzando a fronteira e pisando o solo da Coreia do Norte ao lado do ditador Kim Jong-un. Para alguns analistas, o gesto ; de boa vontade e sem precedentes do republicano ; pode forçar Pyongyang a fazer concessões unilaterais em relação ao programa nuclear. Para outros, tudo não passa de estratégia de marketing, uma jogada política de Trump com foco nas eleições de 2020. Antes de atravessar a fronteira, no domingo, o presidente dos Estados Unidos afirmou que o seu antecessor, Barack Obama, jamais conseguira agendar um encontro com Kim. Talvez a ousadia de Trump lhe renda um Prêmio Nobel da Paz.
No entanto, a manobra do magnata republicano tem um viés de forte polêmica. Ainda que de modo inconsciente, Trump acaba emprestando a Kim Jong-un um grau de legitimidade que não lhe cabe por direito. O norte-coreano acumula um histórico de violações de direitos humanos digno de tiranias sanguinárias. O controle do Estado sobre a sociedade se faz por meio de execuções extrajudiciais, prisões em campos de trabalho forçado, censura prévia e imposição do medo. Trump coloca Kim no mesmo patamar dos governos democráticos. Um erro de cálculo que pode custar muito caro para a Casa Branca. (RC)