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Irã viola acordo

Teerã supera o limite de 300kg de urânio enriquecido autorizado pelo documento firmado em 2015 com EUA, Rússia, Alemanha, China, França e Reino Unido. Agência Internacional de Energia Atômica confirma transgressão a cláusula do pacto



O ministro das Relações Exteriores do Irã, Mohammad Javad Zarif, se recusou a admitir que Teerã violou o chamado Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA, pela sigla em inglês) ; o acordo nuclear firmado em 14 de julho de 2015 com Estados Unidos, China, França, Rússia, Alemanha e Reino Unido. ;Nós não violamos o JCPOA. O parágrafo 36 do acordo explica o motivo: nós recorremos à exaustão a ele após a saída dos EUA (do pacto). Demos ao E3+2 (grupo formado pelos demais signatários) algumas semanas, enquanto nos reservamos em nosso direito. Finalmente, tomamos uma atitude após 60 semanas;, escreveu o chanceler no Twitter.

Horas antes, o próprio Zarif revelou à agência de notícias estatal Isna que o Irã excedeu o limite autorizado de suas reservas de urânio a baixo enriquecimento. ;Segundo as informações de que disponho, o Irã ultrapassou o limite de 300kg de urânio com baixo enriquecimento;, comentou. A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), sediada em Viena, confirmou a violação. ;A Agência verificou, em 1; de julho, que as reservas totais de urânio pouco enriquecido ultrapassavam 300kg;, declarou um porta-voz, por meio de comunicado.

Em nota, a Casa Branca advertiu que ;foi um erro, sob o acordo nuclear, permitir ao Irã enriquecer urânio a qualquer nível;. ;Há pouca dúvida de que, mesmo antes da existência do acordo, o Irã violava os seus termos. Nós devemos restaurar o duradouro padrão de não proliferação de não enriquecimento do Irã. Os Estados Unidos e seus aliados jamais permitirão ao Irã desenvolver armas nucleares;, afirma o texto. Segundo a porta-voz da Casa Branca, Stephanie Grisham, a máxima pressão sobre o regime iraniano continuará até que seus líderes alterem o curso da ação. ;O regime deve colocar fim às suas ambições nucleares e ao seu comportamento maligno;, observou.

Enquanto se gabava do encontro histórico com o ditador norte-coreano, Kim Jong-un, o presidente Donald Trump avisava que ;o Irã brinca com fogo;. O anúncio de Zarif é um elemento a mais na tensa relação de Teerã com o Ocidente. Os EUA acusam o Irã de sabotagem contra navios petroleiros no Golfo de Omã, próximo ao estratégico Estreito de Ormuz (única ligação do Golfo Pérsico com o restante do mundo), e de derrubar um drone não tripulado americano em junho.

Repercussão

Moscou lamentou a decisão de Teerã, mas a considerou uma consequência natural das sanções impostas por Washington ao regime teocrático islâmico. Por sua vez, Londres instou os iranianos a não darem outro passo fora do acordo. A Alemanha exigiu a reversão da violação do acordo. Zarif parecia pouco intimidado com a condenação internacional. O chanceler do Irã revelou que ;o próximo passo será o enriquecimento de urânio além dos 3,67% permitidos sob o acordo;, a partir de domingo. Teerã também pretende reativar a construção de um reator de água pesada em Arak (centro), caso os países signatários do JCPOA não atuem para convencer os EUA a suspenderem as sanções financeiras contra o Irã.

Miles Pomper, analista do Centro para Estudos de Não Proliferação James Martin, em Monterey (na Califórnia), concorda que a decisão de Teerã é ;uma clara tentativa de pressionar as outras partes signatárias do acordo a tomarem ações para aliviar a pressão dos EUA, como condição para cumprimento do pacto;. Ele afirmou ao Correio que o JCPOA foi colocado sob grave risco com a retirada unilateral de Trump. ;Este é o primeiro passo sério do lado iraniano para exceder os próprios limites. Um passo ainda mais preocupante ocorrerá se o Irã enriquecer mais urânio e se aproximar do material apto a ser usado em armas nucleares.;

Para Joshua Pollack, especialista do Instituto de Estudos Internacionais de Middlebury (em Monterey), o Irã tem caminhado na ponta dos pés, ao violar, deliberada e timidamente, os termos do JCPOA. ;Isso provavelmente não provocará uma resposta severa. Espero que Teerã continue a pressionar Washington a retornar ao acordo e os europeus a acelerarem seus esforços para contornar as sanções financeiras;, disse à reportagem.