Em abril passado, pouco antes de o presidente norte-americano, Donald Trump, anunciar a retirada unilateral de um acordo nuclear assinado em 2015 por Irã, Estados Unidos, China, França, Alemanha, Rússia e Reino Unido, Teerã exportava 2,5 milhões de barris de petróleo por dia. No mês seguinte, o número despencou para entre 400 mil e 500 mil barris diários. As sanções econômicas impostas por Washington levaram a economia iraniana a encolher 3,9 pontos percentuais em 2018, e a previsão até o fim deste ano é que a retração chegue a 6 pontos percentuais. Ante o cenário quase catastrófico, autoridades de Teerã participaram ontem, em Viena, de uma reunião com as potências signatárias do pacto. Ao fim do encontro, o vice-ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araghchi, admitiu que houve ;progressos; para ajudar o país a superar o impacto das sanções, mas advertiu que os esforços ainda são ;insuficientes;. Os iranianos ameaçam abandonar algumas cláusulas do pacto, caso não ocorra uma flexibilização da restrição econômica.
;Tivemos alguns progressos, foi um passo adiante, mas ainda não é suficiente e não atendeu às expectativas do Irã;, declarou Araghchi. ;A decisão de reduzir nossos compromissos foi tomada e continuaremos esse processo até que nossas exigências sejam atendidas;, avisou. Em entrevista ao Correio, Matthew Bunn ; especialista em proliferação nuclear e professor da Faculdade de Governo da Universidade de Harvard ; afirmou ser provável que Teerã comece a enriquecer urânio acima de 3,67%, o limite autorizado pelo acordo. ;Os iranianos estão sofrendo severamente com as sanções dos EUA e quase não se beneficiam de manterem a restrição ao programa nuclear;, explicou. ;O Irã sabe que se for longe demais em direção à capacidade de produção de armas atômicas, Israel ou os Estados Unidos poderão adotar represálias militares. Como Teerã começa a se afastar do acordo nuclear, creio que nos próximos meses provavelmente veremos tensões ainda maiores.;
Por sua vez, Steve Fetter ; professor da Faculdade de Políticas Públicas da Universidade de Maryland e ex-vice-diretor do Escritório de Políticas de Ciência e Tecnologia da Casa Branca ; lembra que o Irã concordou em restringir o programa de enriquecimento de urânio em troca da suspensão das sanções e de outros benefícios econômicos, em particular a habilidade de obter lucro com a exportação do petróleo. ;O principal obstáculo para o cumprimento continuado pelo Irã é a imposição das sanções norte-americanas. As outras partes do acordo (China, França, Alemanha, Rússia e Reino Unido) têm sido incapazes de persuadir o Irã de que benefícios econômicos suficientes podem ser restaurados em face das sanções dos EUA;, comentou.
Violação
Fetter afirmou que o Irã declarou que logo excederá o limite de 300kg do estoque de urânio enriquecido a 3,67%. De acordo com ele, isso representaria uma violação significativa do acordo, em termos da capacidade de fabricar armas nucleares. ;Mais grave seria o enriquecimento de urânio a níveis superiores, o que o Irã sugeriu que pode fazer, se não houver progresso suficiente na restauração dos benefícios econômicos;, disse à reportagem.
Ao fim da reunião de ontem, Fu Cong, diretor-geral de controle de armas do Ministério das Relações Exteriores da China, garantiu que continuaria a importar o petróleo iraniano, apesar da pressão exercida pelos Estados Unidos. ;Não seguimos a política chamada ;zero; (importação de petróleo iraniano) dos Estados Unidos. Nós rejeitamos a imposição unilateral de sanções;, declarou. Um progresso obtido neste encontro foi a operacionalização do Instex, o mecanismo europeu para ajudar o Irã a superar as sanções dos EUA. ;Mas para que o Intex seja útil para o Irã, é necessário que os europeus comprem petróleo iraniano, ou que planejem uma linha orçamentária;, alertou Araghchi.
Eu acho...
;O principal obstáculo para o cumprimento do acordo nuclear iraniano está no fato de os Estados Unidos bloquearem esse tipo de pacto, enquanto os países europeus tentam finalizá-lo. Eles estão tentando alcançar um acordo sob o qual o Irã obteria alguns dos benefícios econômicos prometidos nas cláusulas do documento. No entanto, os norte-americanos ameaçam sancionar qualquer um que se engajar em tal comércio com Teerã.;
Matthew Bunn, especialista em proliferação nuclear e professor da Faculdade de Governo da Universidade de Harvard
;A decisão de reduzir nossos compromissos foi tomada e continuaremos esse processo até que
nossas exigências sejam atendidas;
Abbas Araghchi, vice-ministro das Relações Exteriores do Irã
;Nós rejeitamos a imposição unilateral de sanções. Para nós, a segurança energética é importante, e a importação do petróleo iraniano é significativa para a segurança energética da China e para a subsistência do povo;
Fu Cong, diretor-geral de controle de armas do Ministério das Relações Exteriores da China
Irã leva à ONU
derrubada de drone
O Irã denunciou os Estados Unidos ante o Conselho de Segurança da ONU pelo caso do drone, que Teerã afirma ter invadido seu espaço aéreo antes que suas forças o derrubassem, informou a agência Tasnim, citando Gholamhossein Dehghani, vice-ministro das Relações Exteriores. ;A queixa estipula que o Irã se reserva o direito de defender seu espaço aéreo e se opor a qualquer violação;, afirma o texto. Em 20 de junho, o Irã disparou no Golfo de Omã contra o drone RQ-4A Global Hawk), avaliado em US$ 110 milhões, o qual Teerã disse ter ;violado o espaço aéreo iraniano;. Os EUA garantem que o artefato estava em espaço aéreo internacional.