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Trump mobiliza a Otan

Na primeira reunião com os ministros da Defesa da aliança, o novo chefe do Pentágono articula "coalizão internaciona" contra a República Islâmica. Teerã contesta a ideia de uma "guerra rápida", mas adia ameaça de violar compromissos do acordo nuclear


O novo secretário de Defesa dos Estados Unidos, Mark Espper, aproveitou a primeira oportunidade para articular o apoio dos aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) à campanha de Washington para isolar e pressionar o Irã. Reunido em Bruxelas com os titulares da pasta dos parceiros no bloco militar, o chefe do Pentágono levantou a proposta de uma coalizão de forças navais para garantir o trânsito de petroleiros pelo Golfo Pérsico, depois de dois episódios de ataque a navios, atribuídos pelos EUA às forças iranianas, e da derrubada de um drone americano pela defesa antiaérea persa.

A ofensiva diplomática de Esper coincidiu com mais uma troca de declarações entre o governo de Donald Trump e o regime de Teerã. Em resposta ao presidente americano, que na véspera dissera esperar uma guerra ;rápida; com o regime islâmico, embora tenha frisado que busca evitar um conflito armado, o chanceler Mohammad Javad Zarif classificou ontem como ;uma ilusão; a ideia de uma ;guerra curta;. O regime islâmico evitou, no entanto, cumprir a ameaça de ultrapassar desde já o limite para os estoques de urânio enriquecido fixados pelo acordo nuclear de 2015, abandonado pelos EUA um ano atrás ; com a consequente retomada e o agravamento das sanções econômicas impostas ao país.

Esper abordou a questão do Irã com os colegas da Otan, embora o tema não constasse da pauta. O secretário americano de Defesa manifestou o desejo de seu governo de ;internacionalizar; o impasse, fazendo eco ao secretário de Estado, Mike Pompeo, que pediu na semana passada a construção de uma ;coalizão global; contra Teerã. Esper pediu aos aliados que ;considerem a adoção de declarações públicas condenando o mau comportamento do Irã e frisando a necessidade de garantir a livre navegação no Estreito de Ormuz;. Cerca de um quinto do petróleo negociado nos mercados internacionais passa por essa via marítima, que permite a passagem do Golfo Pérsico para o Mar da Arábia.

Sanções
A abordagem agressiva do governo Trump na questão do acordo nuclear iraniano, do qual são signatários Reino Unido, França e Alemanha ; países-membros da Otan ;, além de Rússia e China, causa incômodo aos aliados europeus dos EUA. Em especial, vários governos questionam a imposição de represálias, por Washington, a empresas de terceiros países que importem petróleo iraniano.

Comentando pelo Twitter a crise, o chanceler iraniano acusou Trump de ;ameaçar a paz; com os passos recentes, inclusive o envio de reforços militares ao Golfo Pérsico. ;A ideia de uma guerra com o Irã é uma ilusão, um equívoco (do presidente americano) que coloca em risco a estabilidade;, escreveu Zarif. Na véspera, Trump afirmara que os EUA estão ;em uma posição muito forte;, caso seja ;necessário; atacar o Irã militarmente. ;Não duraria muito tempo, posso garantir. E não estou falando sobre (o uso de) tropas terrestres.;


A ideia de uma guerra com o Irã é uma
ilusão, um equívoco que coloca em
risco a estabilidade no Golfo Pérsico;

Javad Zarif, chanceler do Irã