Jornal Correio Braziliense

Mundo

Disputa de poderes

Senado e Câmara dos Representantes aprovam projetos de lei distintos sobre imigração, liberam mais de US$ 4,5 bilhões para ajuda humanitária na fronteira com o México e causam mal-estar com o presidente. Trump exige ampla reforma


Em meio à comoção causada pela foto dos corpos de pai e bebê afogados ao tentarem entrar nos Estados Unidos, e horas depois da divulgação de maus-tratos contra crianças em centros de imigrantes, o Senado aprovou ontem, por 84 votos a favor e oito contra, uma legislação que autoriza a liberação de US$ 4,5 bilhões (cerca de R$ 17,6 bilhões) a serem usados na fronteira com o México. Desse total, US$ 3 bilhões (R$ 11,5 bilhões) devem ser aplicados em ajuda humanitária aos imigrantes, informou o site The Hill.

Na véspera, a Câmara dos Representantes tinha aprovado um projeto de lei próprio sobre o tema, que excluía financiamento para o Departamento de Defesa e refreava as políticas de imigração do presidente Donald Trump ; o documento foi rejeitado pelos senadores. Os textos escancararam o mal-estar entre as duas casas do Legislativo, e entre o Congresso e a Casa Branca. Segundo o jornal The Washington Post, a versão aprovada pela Câmara imporia restrições ao Executivo, na tentativa de preservar as necessidades básicas das crianças filhas de imigrantes.

Pouco antes da votação no Senado, Trump responsabilizou os democratas pelas mortes dos imigrantes ilegais. ;Os democratas salvariam muitas vidas se mudassem nossas leis de imigração falidas e muito perigosas. Isso pode ser feito de modo instantâneo;, escreveu. Foi o segundo tuíte sobre o tema em menos de duas horas. Em outra mensagem, ele afirmou que os democratas ;devem mudar as lacunas e as leis de asilo, a fim de que as vidas sejam salvas na nossa fronteira sul;. ;Eles disseram que não era uma crise na fronteira, que tudo foi ;fabricado;. Agora eles admitem que eu estava certo. Eles devem fazer algo sobre isso. Consertem as leis agora!”, exigiu.


Indignação
Enquanto se preparava para o primeiro debate entre os pré-candidatos do Partido Democrata às eleições presidenciais de 2020 (leia abaixo), a senadora Elizabeth Warren intensificava os ataques ao governo republicano e à gestão da crise migratória. ;Neste momento, crianças estão trancafiadas em jaulas e morrendo, sob custódia dos EUA. Trump está aterrorizando comunidades com batidas e com deportações em massa. A Casa Branca ameaça vetar a legislação, caso deixe de financiar mais centros de detenção. O Congresso deve lutar de volta;, afirmou. ;Nós deveríamos banir os centros de detenção e as prisões com fins lucrativos. Nós deveríamos descriminalizar a migração. Pais e crianças não deveriam ser considerados criminosos por fugirem da violência ou por buscarem um futuro melhor. Devemos parar com as separações das famílias e as detenções das crianças. Ponto.;

Ao avalizarem os projetos de lei, deputados e senadores atenderam a um chamado de um grupo de advogados que advertiu para as condições precárias de crianças mantidas em abrigos para imigrantes. De acordo com a Agência Estado, um grupo de advogados que visitou um centro de detenção na cidade de Clint, na fronteira do Texas com o México, alertou que centenas de migrantes menores de idade permaneciam no local em condições insalubres, sem fraldas para bebês, sabão, roupa limpa, escovas de dentes nem comida adequada.

A controvérsia suscitada pelas conclusões dos relatórios levou à transferência dos menores, separados dos adultos durante a travessia da fronteira, a outras instalações. Na última quarta-feira, foi noticiado que mais de 100 crianças foram devolvidas a esse centro em Clint, sem que fossem divulgados mais detalhes. Na terça-feira, John Sanders ; chefe da Agência Alfandegária e de Proteção de Fronteira dos EUA (CBP, pela sigla em inglês) ; apresentou a própria renúncia após as denúncias de tratamento degradante dado às crianças.


Papa expressa profunda tristeza por mortes


O papa Francisco ficou profundamente triste depois de ver a foto de um pai e de sua filha de quase 2 anos, ambos salvadorenhos, mortos afogados no Rio Grande, na fronteira entre México e Estados Unidos. ;O Santo Padre viu, com imensa tristeza, a imagem do pai e de sua filha afogados no Rio Grande enquanto tentavam atravessar a fronteira;, afirmou o porta-voz do Vaticano, Alessandro Gisotti, segundo a Agência Estado. ;O papa está profundamente entristecido com as mortes e reza por eles e por todos os migrantes que perderam suas vidas tentando escapar da guerra e da miséria;, completou. A imagem que percorreu o mundo mostra Óscar Alberto Martínez Ramírez, de 25 anos, e sua filha Valeria, de 1 ano e 11 meses, afogados em uma das margens do Rio Grande, perto da cidade mexicana de Matamoros. Em abril passado, o pontífice doou US$ 500 mil para ajudar os migrantes no México, oferecendo assistência a projetos locais que fornecem alimentos, alojamento e necessidades básicas.