O líder da oposição na Venezuela, Juan Guaidó, proclamado presidente interino pela Assembleia Nacional, há cinco meses, e reconhecido por 50 países, comemorou ontem em Caracas o compromisso da alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, de empenhar-se na libertação dos presos políticos e na garantia das liberdades no país. A ex-presidente chilena encerrou ontem uma visita de três dias a Caracas mantendo encontros com Guaidó e com o ;número dois; do regime chavista, Diosdado Cabello. A agenda previa para antes da partida uma reunião com o presidente Nicolás Maduro.
;Ela nos informou que está insistindo na libertação dos presos políticos;, disse Guaidó à imprensa depois de receber a emissária da ONU na sede da Assembleia Nacional, o Legislativo que ele preside, controlado pela oposição ; mas desautorizado por Maduro, que o substituiu por uma Assembleia Constituinte 100% chavista. A missão caberá a dois delegados que a alta comissária pretende manter na capital venezuelana para monitorar a situação e informar as Nações Unidas.
O presidente autoproclamado disse ter relatado a Bachelet sobre ;a perseguição; contra os deputados, vários deles atualmente processados por ligação com a fracassada tentativa da oposição de promover um levante militar contra o governo de Maduro, há pouco menos de dois meses. Guaidó se referiu à visita como ;um reconhecimento da emergência humanitária complexa (na Venezuela), que está à beira de virar uma catástrofe;.
A alta comissária tinha estado mais cedo com defensores dos direitos humanos e familiares de oposicionistas presos ; eles seriam 687, de acordo com a ONG Foro Penal ; e de civis mortos em protestos desde 2014, um total estimado em cerca de 200. Na ocasião, cerca de 300 militantes se concentraram diante do local exibindo cartazes nos quais chamavam a atenção da delegação para as condições enfrentadas pelos adversários do regime. Um deles invocava a experiência de Bachelet com a ditadura militar do general Agusto Pinochet, que governou o Chile de 1973 a 1990 e deixou um saldo de ao menos 3 mil mortos e desaparecidos. ;Maduro é Pinochet;, dizia a mensagem.
;Peço a ela que coloque a mão no coração e faça história advogando pelos nossos direitos;, afirmou Neida Brito, cujo filho buscou exílio no Chile para evitar ser detido após os protestos de 2017, que deixaram 125 mortos. ;Querem pisar em nós e Bachelet tem de ver isso;, acrescentou a aposentada de 61 anos, em frente à sede do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Carrinhos de bebê vazios foram usados no protesto, como símbolo da morte de crianças pela suposta falta de tratamentos médicos.
A ex-presidente chilena esteve também com Diodado Cabello, presidente da Assembleia Constituinte, que apontou os Estados Unidos como responsáveis pela crise que devasta a economia do país ; o Fundo Monetário Internacional projeta para o fim de 2019 uma taxa anual de inflação da ordem de 10.000.000%. Antes de recebê-la, Cabello tinha mencionado o caso de um partidário do governo que teria sido morto por manifestantes, há dois anos. ;Tomara que ela pergunte (à oposição) como queimaram viva uma pessoa apenas porque parecia chavista;, declarou o ;número dois; do chavismo.