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Acusação direta ao Irã

Oficial da Marinha americana aponta o regime islâmico como responsável por ataques a petroleiros. O secretário de Estado Mike Pompeo fala ao Congresso sobre suposta aliança com a Al-Qaeda



Uma semana depois dos ataques a dois petroleiros que transitavam pelo Golfo Pérsico, entre o litoral dos Emirados Árabes Unidos e o do Irã, um alto oficial da Marinha dos Estados Unidos, almirante Sean Kido, apontou o regime iraniano como responsável pela ação contra o navio japonês Kokuka Corageous. De acordo com o oficial americano, que exibiu imagens, restos de explosivos e impressões digitais, a embarcação teria sido atingida por uma mina magnética ;parecida com as usadas pelo Irã;. A declaração, que acrescenta um novo ingrediente à escalada de tensão entre os dois países, coincidiu com declarações feitas ao Congresso pelo secretário de Estado Mike Pompeo, que denunciou a existência de laços entre Teerã e a rede terrorista Al-Qaeda para atentar contra alvos americanos.

;A mina magnética é reconhecível e se parece em todos os aspectos com as minas iranianas que vemos em desfiles militares;, afirmou o almirante Kido, que dirige uma força-tarefa especializada em artefatos explosivos marítimos no Comando Central (Nav-cent) da Marinha americana. ;O Navcent estima que o ataque ao Kokuka Corageous e os danos que ele sofreu resultam do emprego de uma mina magnética localizada no casco;, explicou o oficial. ;Nossa equipe chegou ao local rapidamente e pôde examinar onde a mina magnética foi colocada;, completou, falando à imprensa nos Emirados.

Kido voltou a contradizer relatos de tripulantes japoneses sobre a ação de ;um objeto voador; que teria tentado uma primeira aproximação com o navio e retornado, três horas mais tarde, para por fim atingi-lo. ;Os danos observados no casco correspondem aos que são causados por uma mina magnética, e não aos que poderiam ser causados por um artefato voador;, garantiu. De acordo com o almirante, foram colhidas inclusive ;impressões digitais e pistas biométricas que poderão ser usadas em uma investigação criminal;.

O ministro iraniano da Defesa, o general Amir Hatami, rechaçou ;categoricamente; as acusações dos EUA, durante reunião do gabinete, em Teerã. ;As acusações formuladas contra as nossas Forças Armadas e a filmagem publicada (pelos americanos) com respeito ao incidente não têm substância;, sustentou. O presidente Hassan Rohani acusou Washington de tentar intrigar o regime islâmico com parceiros asiáticos, em especial o Japão, um dos importadores habituiais de petróleo iraniano, no dia em que o premiê Shinzo Abe visitava Teerã. ;Nossas estreitas relações com a Ásia, com o Japão e com a China, levaram alguns a atacar os petroleiros no mesmo dia em que o primeiro-ministro japonês era nosso hóspede;, disse Rohani.


Escalada

As acusações do almirante Kido ao Irã se seguem à decisão do presidente Donald Trump de mandar mais mil combatentes ao Golfo Pérsico para responder à tensão com o regime iraniano. A medida complementa o envio do porta-aviões Abraham Lincoln com seu grupo de combate, além de uma esquadrilha de bombardeiros estratégicos B-52, no mês passado. Os reforços foram justificados pelo Pentágono em nome de fazer frente a ;ameaças iminentes; de ataques do Irã contra as forças americanas estacionadas na região e contra aliados regionais.

Falando ao Congresso, nas últimas semanas, o secretário de Estado Mike Pompeo mencionou ;laços alarmantes; de Teerã com a rede terrorista Al-Qaeda, fundada por Osama bin Laden. As afirmaçõe foram questionadas por legisladores da oposição democrata e até por alguns republicanos (governistas), sob a suspeita de que poderiam servir de base para invocar contra o Irã uma autorização de guerra aprovada pelos congressistas em 2001, após os atentados de 11 de setembro, e voltada contra a Al-Qaeda.

O regime de Teerã pertence ao ramo xiita do islã, classificado como herege por fundamentalistas da corrente sunita, como é o caso da Al-Qaeda. Os dois lutaram em lados opostos em vários conflitos na região, inclusive na guerra civil da Síria.


"A mina magnética é reconhecível e se parece em todos os aspectos com as minas iranianas que vemos em desfiles militares;
Almirante Sean Kido, do Comando Central da Marinha dos EUA