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Com discurso do medo, Trump lança campanha

Presidente republicano adota o slogan %u201CMantenha a América grande%u201D e despeja ataques contra democratas, ao acusá-los de dividir o país e de minar a democracia. Pronunciamento destaca as façanhas na economia, um dos principais focos da batalha pela reeleição em 2020


O slogan sofreu uma repaginada: ;Mantenha a América grande;. Diante de 20 mil pessoas reunidas, ontem à noite, na arena de basquete Amway Center (em Orlando, na Flórida), o presidente norte-americano, Donald Trump, intensificou o discurso do medo e incorporou uma postura desafiadora ao lançar, oficialmente, a campanha à reeleição. Subiu ao palco acompanhado da primeira-dama, Melania Trump, e fez questão de emprestar o púlpito para que ela fizesse um pronunciamento antes. Então, falou por uma hora e meia. ;Ao invés de nos unir, os democratas, querem nos dividir em facções e em tribos. Isso não vai ocorrer;, avisou o republicano. ;Essa eleição não é meramente um veredicto sobre o progresso incrível que temos feito, mas um veredicto sobre a conduta não americana daqueles que tentam minar nossa grande democracia e minar vocês;, acrescentou, ao alertar que os democratas pretendem impor o socialismo aos EUA.

O estado escolhido por Trump não foi acidental: exatamente em 18 de junho de 2015, ele anunciou, na Flórida, a própria candidatura à Casa Branca. Para inflamar a multidão, o magnata republicano pediu ao público que repetisse o novo slogan de campanha. ;Nesta noite, eu me coloco diante de vocês para oficialmente lançar minha campanha a um segundo mandato como presidente dos Estados Unidos. Prometo a vocês que não os desapontarei;, declarou Trump.

Durante o discurso, ele buscou destacar as conquistas de seu governo no campo da economia, um dos pontos decisivos para assegurar uma eventual reeleição, segundo especialistas. ;Eu acredito que uma nação deve cuidar de seus cidadãos, antes de tudo. Juntos, nós derrotamos um establishment político falido e corrupto e restauramos o governo do povo e para o povo. Nosso país avança, prospera e está em pleno crescimento. Nossa economia é a inveja do mundo, talvez a maior economia que tivemos na história da nação;, assegurou.

Empregos
De acordo com ele, 6 milhões de empregos foram criados durante sua gestão. ;O número de pessoas empregadas é de 160 milhões. As mulheres preencheram 60% dos novos postos de trabalho criados, e o desemprego entre elas é o mais baixo em 74 anos. Os salários aumentam no compasso mais rápido das últimas décadas;, emendou. Trump atribuiu a si a façanha de instalar mais de 16 mil vagas de emprego na indústria norte-americana em um mês. Ele se gabou de ;fazer mais coisas do que outros jamais tentaram fazer; e brincou: ;Apenas uma pessoa tem um percentual mais alto do que seu favorito presidente Donald Trump; (;) e o nome dele é George Washington; (o primeiro presidente dos EUA, entre 1789 e 1797). O republicano insistiu na construção do muro na fronteira com o México e celebrou a vitória na guerra contra os opióides.

James Green, historiador da Brown University (em Rhode Island), avaliou que o discurso de inauguração da campanha de Trump nada trouxe de novo e que seus efeitos não mudarão a equação política. ;Nós podemos esperar que ele intensifique os ataques aos imigrantes ilegais nas próximas semanas, como fez em 2015, e que aqueça as críticas a Nancy Pelosi (presidente da Câmara dos Deputados) por ser ;de esquerda; e aos senadores Bernie Sanders e Elizabeth Warren por serem ;muito radicais;;, disse. ;É muito cedo para saber o que ocorrerá em 2020, tudo depende de quem será o candidato democrata. Trump espera aumentar os 40% de popularidade. Como sempre, tudo dependerá de Flórida, Pensilvânia, Ohio, Wisconsin e Washington.;

Analista político, economista e CEO do Oxford Group (em Boca Raton, Flórida), Carlo Barbieri disse crer que, se o crescimento econômico for mantido até outubro, Trump terá boas chances. ;Se o Fed demonstrar que poderá baixar a taxa de juros, isso será um grande trunfo para o republicano. Se os democratas conseguirem forjar unidade no partido, passarão a ter uma chance na eleição;, explicou ao Correio. Ele lembra que, nas eleições de 2020, 100% das cadeiras da Câmara dos Representantes estarão em disputa. ;Se Trump não obtiver maioria republicana no Congresso, é provável que ele tenha mais quatro anos de enfrentamento. Com isso, o seu êxito econômico estaria fadado ao insucesso, pois as medidas de infraestrutura e de modificação do sistema de saúde não conseguirão a aprovação do Congresso, menos ainda o próximo Orçamento;, comentou. ;Se os democratas unificarem os 20 pré-candidatos em um discurso único, de centro, terão a possibilidade de eleger um novo presidente. Em uma eleição onde pouco mais de 50% dos cidadãos participam do processo, o partido que levar 30% dos eleitores às urnas será o vitorioso.;

Allan Lichtman, historiador da American University (em Washington), concorda que a manutenção da solidez da economia ajudaria Trump em 2020. No entanto, ele ressalta que as escolhas do eleitorado são mais amplas do que o simples apelo econômico. ;Trump pode ser atingido com o ônus do escândalo (o suposto conluio com a Rússia) ou com um grande revés nas relações exteriores;, afirmou à reportagem.

Pontos de vista


Por Allan Lichtman
Retórica tradicional


;Foi um discurso típico de Donald Trump. Estava repleto de queixas, de mentiras, de atribuições de responsabilidades, de retórica divisiva. Além disso, o presidente exagerou em suas realizações e em suas promessas. A opção estratégica mais importante para os democratas é começar, o quanto antes, um inquérito de impeachment. Se a investigação se atrasar e se tornar enredada na campanha de 2020, Trump buscará credibilidade política. Os democratas também precisam buscar um candidato carismático que seja capaz de inspirar os eleitores, como Barack Obama fez em 2008.;

Historiador da American University (em Washington D.C.)


Por Carlo Barbieri
Economia como aliada


;Trump mostrou-se uma pessoa tenaz em sua luta, mas que não gozava de grande simpatia dentro do Partido Republicano. O inquérito de Mueller não conseguiu chegar a uma resposta conclusiva sobre o conluio entre o presidente e a Rússia. Esse é o ponto fucral da grande fraqueza de Trump. Ao seu lado, Trump tem a grande vantagem do sucesso econômico. Ele possui um índice de rejeição imenso entre a população. No entanto, tem adesão da classe média e dos menos favorecidos, que conquistaram a possibilidade de emprego.;

Analista político, economista e CEO do Oxford Group (em Boca Raton, Flórida)



;Nosso país avança, prospera e está em pleno crescimento. Nossa economia é a inveja do mundo, talvez a maior economia que tivemos na história da nação;
Donald Trump, presidente dos EUA, diante de 20 mil pessoas reunidas na arena Amway Center (em Orlando, na Flórida)