Em mais um capítulo do acirramento de tensão com os Estados Unidos, o Irã anunciou ontem ter desmantelado uma ;nova rede; de espionagem ligada à norte-americana Agência Central de Inteligência (CIA), horas depois de Rússia e China manifestarem preocupação com a crise. ;Com base em informações da nossa própria inteligência e pistas coletadas sobre os serviços dos Estados Unidos, descobrimos recentemente novos recrutas contratados pelos norte-americanos e desmantelamos essa nova rede;, escreveu a agência oficial de notícias iraniana Irna, citando uma fonte apresentada como o chefe de serviço de contraespionagem no Ministério da Inteligência.
Sem citar números ou revelar a identidade de sua fonte, tampouco a nacionalidade dos suspeitos, A Irna informou que alguns espiões da rede, que teria sido criada pela CIA, foram presos e levados à Justiça. O Irã e Estados Unidos vivem uma relação tensa depois da retirada unilateral de Washington, em 2018, do acordo nuclear e do restabelecimento das sanções econômicas americanas em Teerã. A crise se agravou com os ataques contra petroleiros ocorridos em maio e na semana passada na região do Golfo, atribuídos pelos Estados Unidos ao Irã, que desmentiu.
O acordo assinado em 2015, em Viena, foi fruto de intensos esforços diplomáticos entre Irã, Alemanha, China, Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia. Seu objetivo é limitar drasticamente a capacidade atômica de Teerã em troca de uma suspensão das sanções econômicas internacionais contra a República Islâmica. Na segunda-feira, outro elemento agravou a crise: o Pentágono anunciou o reforço do dispositivo militar norte-americano no Oriente Médio, depois que Teerã afirmou a intenção de superar o limite previsto pelo pacto nuclear.
Urânio
Na segunda-feira, o Irã anunciou que suas reservas de urânio enriquecido superariam, a partir de 27 de junho, o limite imposto pelo acordo internacional sobre sua energia nuclear. ;Hoje começou a contagem regressiva para superar os 300kg de reservas de urânio enriquecido e, em 10 dias, superaremos este limite;, declarou o porta-voz da Organização Iraniana de Energia Atômica, Behruz Kamalvandi.
Em maio passado, o presidente iraniano, Hassan Rohani, tinha anunciado que seu país deixaria de cumprir os compromissos com relação ao ;grau de enriquecimento de urânio; e que retomaria o projeto de construção do reator de águas pesadas em Arak (centro), se os países que continuarem subscrevendo o pacto nuclear não o ajudarem a contornar as sanções impostas pelos EUA. O reator de Arak foi suspenso após o acordo de Viena, que também obriga o Irã a não enriquecer urânio acima de 3,67%, uma cifra muito inferior aos 90% necessários para fabricar uma arma atômica.
Moscou adverte sobre reforço
O Kremlin fez um apelo para que se evite uma escalada no Oriente Médio, depois que os Estados Unidos anunciaram o envio de tropas adicionais à região em resposta à tensão com o Irã. ;Pedimos a todas as partes para que atuem com moderação;, declarou o porta-voz da presidência, Dmitry Peskov. ;Preferimos não ver quaisquer medidas que possam aumentar a tensão nesta região já instável;, acrescentou, ao recomendar cautela para os Estados Unidos. Por sua vez, o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, exortou o Irã a ;tomar decisões prudentes; e advertiu contra a abertura de uma ;caixa de Pandora; no Oriente Médio.