Na quinta-feira da próxima semana, se nada mudar, o Irã terá acumulado reservas de urânio enriquecido acima do limite de 300kg estabelecido no acordo firmado em 2015 com um grupo de seis potências mundiais ; pelo qual o regime islâmico aceitou suspender atividades de seu programa nuclear em troca do alívio de sanções econômicas. O anúncio, feito ontem pelas autoridades iranianas, é parte da resposta de Teerã à reimposição de represálias por parte dos Estados Unidos, que se retiraram do acordo há pouco mais de um ano. Reino Unido, França, Alemanha, Rússia e China, que se mantêm comprometidos com os termos firmados há quatro anos em Viena, vêm insistindo na importância de manter os compromissos assumidos no acordo para aliviar a tensão no Oriente Médio.
;Lamento os anúncios do Irã;, declarou o presidente francês, Emmanuel Macron, que pediu ao Irã para manter uma atitude ;paciente e responsável; em relação ao impasse do programa nuclear. ;Nenhuma forma de escalada pode ser o melhor caminho;, ponderou. Macron fez questão de frisar que, até o momento, Teerã ;continua respeitando suas obrigações; em relação ao acordo de 2015, embora tenha antecipado a disposição de responder às sanções americanas desobrigando-se de alguns dos compromissos assumidos. Na estrutura do regime islâmico, a linha de reação às tensões externas coloca o presidente Hassan Rohani, um religioso moderado, condicionado às posições do líder religioso supremo, o aiatolá Ali Khamenei, um radical antiamericano.
O acordo negociado ao longo de anos entre Teerã e as potências ocidentais tem como objetivo central assegurar à comunidade internacional que o regime islâmico não tenha a possibilidade de desenvolver armamentos nucleares em futuro próximo. Para tal, o país aceitou transferir para a Rússia seu estoque de urânio enriquecido ; material que pode alimentar reatores atômicos de uso civil, mas é matéria-prima para a construção de armas nucleares.
;Cabe ao Irã cumprir seus compromissos;, reagiu o ministro de Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Maas. ;Não aceitaremos uma redução unilateral das obrigações;, advertiu, após reunir-se com outros chanceleres europeus em Luxemburgo. Também o secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, fez um apelo ao governo iraniano para que se mantenha fiel aos termos do acordo de 2015. ;O secretário-geral encoraja o Irã a continuar cumprindo seus compromissos e pede aos demais participantes (do tratado) que respeitem plenamente os respectivos compromissos;.
Em tom claramente contrastante, o Departamento de Estado dos EUA afirmou que o mundo não deve ;ceder à chantagem nuclear; do Irã. ;Continuamos convocando o regime iraniano a cumprir seus compromissos com a comunidade internacional;, afirmou a porta-voz Morgan Ortagus. Depois de ter criticado, como candidato à Casa Branca, os termos aceitos pelo antecessor Barack Obama, o atual presidente americano, Donald Trump, denunciou o acordo e formalizou, um ano atrás, a saída do país. Desde o mês passado, Washington aprofundou as sanções unilaterais às exportações iranianas de petróleo, colocando na mira também as empresas de terceiros países que negociem com a República Islâmica.
Desafio
;Começou hoje a contagem regressiva para superar os 300kg de reservas de urânio enriquecido e, em 10 dias, vamos superar esse limite;, declarou o porta-voz da Organização Iraniana de Energia Atômica, Behruz Kamalvandi, falando à imprensa nas instalações da usina nuclear de Arak. No início de maio, Teerã tinha anunciado a suspensão de alguns dos compromissos assumidos no acordo de 2015, em resposta às sanções americanas ; e, em particular, à pressão adicional exercida por Washington sobre países europeus e outros que são importadores de petróleo iraniano.
O local escolhido para o anúncio iraniano se relaciona a um dos pontos nevrálgicos do acordo nuclear. O reator de Arak é alimentado com água pesada (radioativa) e foi desativado, como parte das medidas de confiança destinadas a assegurar a renúncia do Irã a produzir armas atômicas.
A ofensiva diplomática do regime islâmico coincide também com uma escalada de tensão com os EUA em torno da situação militar no Golfo Pérsico, principal via de escoamento de petróleo oriundo do Oriente Médio para o mercado internacional.
"Começou hoje a contagem regressiva para superar os 300kg de urânio enriquecido. Em 10 dias, vamos superar esse limite;
Behruz Kamalvandi, porta-voz da Organização Iraniana de Energia Atômica
"Cabe ao Irã cumprir seus compromissos. Não aceitaremos uma redução unilateral das obrigações;
Heiko Maas, ministro das Relações Exteriores da Alemanha