Um vídeo divulgado pelo Comando Central dos Estados Unidos (Centcom) em que a suposta tripulação de um barco de patrulha iraniano retira o que seria uma mina não deflagrada do casco do petroleiro Kokuka Courageous (de propriedade japonesa) intensificou a pressão sobre Teerã. Na manhã de anteontem, a embarcação e o petroleiro norueguês Front Altair foram alvos de pelo menos cinco explosões, no Mar de Omã, a pouco mais de 25 milhas náuticas (ou 46km) da cidade iraniana de Bandar-e-jask. ;O Irã fez isso. E vocês sabem que eles fizeram porque vocês viram o barco (iraniano). Vemos o barco, com uma mina que não explodiu. Tem a assinatura do Irã;, declarou o presidente dos EUA, Donald Trump.
Teerã classificou as acusações de ;infundadas; e acusou Washington de representar ;uma grave ameaça à estabilidade regional e mundial;. ;O fato de os EUA aproveitarem imediatamente a oportunidade para fazer acusações contra o Irã, revela que (eles e seus aliados árabes) passaram ao plano B: a sabotagem diplomática e maquiagem do seu terrorismo econômico contra o Irã;, respondeu Mohammad Javad Zarif, chanceler do Irã.
Por sua vez, em reunião da Organização de Cooperação de Xangai (SCO, pela sigla em inglês), em Brihskek (Quirguistão), o presidente iraniano, Hassan Rohani, reforçou as críticas aos norte-americanos. ;Nos últimos dois anos, o governo dos EUA tem sido agressivo e representa séria ameaça à estabilidade na região e no mundo, violando todas as regras internacionais.; No vídeo em preto e branco do Centcom, uma lancha transportando entre oito e 10 pessoas paira ao lado do Kokuka Courageous. Uma pessoa de pé na proa da pequena embarcação parece remover do casco do petroleiro um objeto de cor clara, pouco maior do que um prato de comida. Apesar da gravação, a japonesa Kokuka Sangyo, operadora do petroleiro, disse que a tripulação relatou ter visto um ;objeto voador; se chocar com o navio, antes da primeira explosão.
;Assisti ao vídeo, e também vi que os japoneses alegaram que o dano ocorreu sobre o nível da água, o que descartaria a hipótese de explosão de uma mina. Por qual razão os iranianos apareceriam para remover uma mina, sabendo exatamente a posição do artefato ao lado do petroleiro;, questionou ao Correio Tallha Abdulrazaq, especialista em Oriente Médio pelo Instituto de Segurança e Estratégia da Universidade de Exeter (Reino Unido). Ele acredita que os iranianos provavelmente buscaram experimentar vários métodos de causar danos aos dois petroleiros, desde minas até projéteis. ;Uma vez que danos suficientes tivessem sido alcançados e uma vez que percebessem a aproximação da 5; Frota dos EUA, os iranianos teriam removido material não detonado para esconder evidências de seu envolvimento, mas foram flagrados pelas câmeras.;
Ação militar
Abdulrazaq aposta que o vídeo fortalecerá o caso contra o Irã. No entanto, considera improvável que a suposta prova leve a um confronto direto entre Washington e Teerã. ;Isso pode ser referenciado no futuro, caso os EUA necessitem do vídeo para a formulação de um casus belli;, afirmou, ao citar um termo usado para designar fato considerado suficientemente grave pelo Estado ofendido a fim de declarar guerra ao Estado supostamente ofensor. ;É altamente improvável que isso resulte numa ação militar dos EUA, pois os ataques do Irã são desenhados para enviar mensagens, não para desencadear uma guerra invencível. Qualquer resposta militar seria muito limitada em seu escopo.;
Ainda segundo o estudioso, tanto a Arábia Saudita quanto o Irã podem se beneficiar da crise no Mar de Omã. Ele explica que Riad pode utilizar os ataques como pretextos para empurrar as potências globais a um confronto com o Teerã, com potenciais choques à economia mundial. ;Da mesma forma, é provável que o Irã tenha provocado tais sabotagens para mostrar que é capaz de impactar a estabilidade econômica mundial, ao ameaçar o fornecimento de energia e outras embarcações críticas que se movem pelo Golfo Pérsico;, comentou Abdulrazaq. Todos os dias, 60 milhões de barris de petróleo circulam pelos mares do planeta ; um terço desse volume atravessa o Estreito de Ormuz a cada 24 horas.
Elizabeth Dickinson, especialista em Península Arábica pelo International Crisis Group (em Bruxelas), teme o risco de a dinâmica regional se espalhar como um pavio de pólvora e atingir conflitos regionais, do Iêmen ao Iraque e do Bahrein à Síria. ;Em inúmeros teatros em todo o Oriente Médio, há simplesmente a capacidade de absorver mais pressão. Um atalho deve ser encontrado imediatamente;, disse à reportagem.
;O Irã fez isso. E vocês sabem que eles fizeram porque vocês viram o barco (iraniano). Vemos o barco, com uma mina que não explodiu. Tem a assinatura do Irã;
Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, em entrevista à TV Fox News
Pontos de vista
Por Elizabeth Dickinson
Desescalada essencial
;A desescalada deveria ser a primeira prioridade para todos os países da região. O confronto entre o Irã, de um lado, e os Estados Unidos e seus aliados, de outro, não serve ao interesse de ninguém. O maior risco, no momento, é que as tensões se tornem uma profecia autorrealizável, levando a erros de cálculo, desconfiança e, talvez, um confronto acidental.;
Especialista em Península Arábica pelo International Crisis Group (ICG), com sede em Bruxelas (Bélgica)
Por Tallha Abrulrazaq
Histórico de agressões
;O Irã tem um histórico que remonta a décadas de ataques ao transporte martítimo no Golfo Pérsico. Teerã tem ameaçado, de modo reiterado, fechar o Estreito de Ormuz. Os iranianos chegaram a fazê-lo durante a guerra Irã-Iraque, que desencadeou uma respostra militar dos Estados Unidos.;
Especialista em Oriente Médio pelo Instituto de Segurança e Estratégia da Universidade de Exeter (Reino Unido)