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Saturno em detalhes

Informações coletadas pela nave espacial Cassini continuam revelando novos aspectos do gigante gasoso. Astrônomos relatam que a estrutura dos famosos anéis gelados é moldada pela interação gravitacional dos discos com as cinco luas do sistema planetário


Quando Cassini deu adeus à sua missão de 13 anos, em setembro passado, se autodestruindo ao mergulhar na atmosfera gelada de Júpiter, ela deixou para a humanidade um legado gigantesco de dados que, aos poucos, são desvendados por cientistas. Agora, ao avaliar informações coletadas pela nave espacial, um grupo internacional de pesquisadores começa a desvelar um dos aspectos mais fascinantes desse gigante gasoso: seus famosos anéis.

Foi apenas no fim da missão, quando passou mais perto por eles, que Cassini fez as observações detalhadas dos anéis de Saturno. Em um artigo publicado na revista Science, os pesquisadores, liderados por Matthew Tiscareno, do Centro Carl Sagan de Estudo da Vida no Universo, no Instituto Seti da Califórnia, revelam que a estrutura dos principais anéis do planeta ; um grande disco equatorial formado por partículas orbitantes ; é moldada pelas interações gravitacionais com as pequenas luas próximas ou dentro deles. Enquanto os grãos de gelo que constituem cada anel seguem a própria órbita por Saturno, a ação da gravidade das luas ou de objetos com dimensões muito superiores que as maiores partículas dos discos podem causar perturbações dentro dos anéis.

Para analisar os dados capturados por Cassini, os pesquisadores utilizaram técnicas espectroscópicas, que avaliam moléculas em busca da composição dos diferentes materiais que formam uma estrutura. Segundo eles, as observações ajudam a aprofundar a compreensão sobre o complexo sistema do planeta. ;Os novos detalhes de como as luas estão esculpindo os anéis de várias formas nos abrem uma nova janela em direção à formação do Sistema Solar, onde também há discos evoluindo sob a influência de massas embutidas neles;, diz Matt Tiscareno.

Ao mesmo tempo, afirma ele, novos enigmas emergiram, e antigos mistérios ficaram ainda mais confusos. Os closes dos anéis feitos por Cassini relevaram três texturas distintas: acidentadas, lisas e entremeadas, que ocorrem em faixas com limites nítidos. ;Tem que haver algo diferente a respeito das características das partículas e talvez isso afete o que acontece quando duas partículas do anel colidem e se chocam. Mas ainda não sabemos o que é;, admite.


Compostos orgânicos
Os dados capturados pelo espectrômetro de Cassini, chamado espectrômetro de mapeamento visível e infravermelho (VIMS), por sua vez, solucionaram um mistério. O instrumento, que visualizou os anéis na luz visível e quase-inframermelha, esclareceu a composição dos anéis. Enquanto os cientistas já sabiam que a água congelada era o principal componente, o mapa descartou gelo de amônia e de metano como ingredientes, algo que se imaginava existir.

Por outro lado, não se veem compostos orgânicos: uma surpresa, já que Cassini detectou material orgânico fluindo do anel D para a atmosfera saturnina. ;Se os (materiais) orgânicos estivessem lá em grandes quantidades, nós os veríamos;, afirma Phil Nicholson, cientista da Universidade de Cornell responsável pelo VIMS. ;Não estou convencido de que eles sejam um componente importante dos principais anéis.;

Na definição de Linda Spilker, cientista do projeto Cassini no Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa, as novas observações permitem uma visão muito mais aprofundada dos anéis do que se tinha. ;Agora, todo mundo tem uma visão mais clara do que está acontecendo. Essa resolução extra (da imagem dos anéis) respondeu muitas perguntas, mas muitas outras permanecem;, admite, em nota.

;Os novos detalhes de como as luas estão esculpindo os anéis de várias formas nos abrem uma nova janela em direção à formação do Sistema Solar, onde também há discos evoluindo sob a influênciade massas embutidas neles;

Matthew Tiscareno,
do Centro Carl Sagan de Estudo da Vida no Universo e líder do estudo