Um grupo de cientistas americanos conseguiu provocar alívio de longo prazo da dor refratária crônica do ombro, problema comum em pessoas em cadeira de rodas devido à lesão medular. O avanço foi observado em um indivíduo após a aplicação, na articulação do local afetado, de uma única injeção de tecido adiposo manipulado em laboratório. O resultado foi detalhado ontem, na última edição da revista Nature.
Cadeirantes com medula lesionada dependem dos membros superiores para mobilidade e atividades cotidianas. No caso da dor refratária persistente e contínua no ombro, as terapias usadas atualmente não trazem os resultados esperados, segundo os autores do estudo. ;Geralmente, é um tratamento conservador, com abordagens não cirúrgicas, ou seja, medicamentos, fisioterapia, educação do paciente e dispositivos de assistência;, ilustram, no artigo divulgado.
Quando a dor persistir por seis meses, a cirurgia é frequentemente recomendada. ;As injeções de corticosteroides, outra alternativa, oferecem apenas alívio temporário, e intervenções cirúrgicas geralmente exigem períodos prolongados de recuperação e têm resultados ruins, o que pode aumentar o ônus da incapacidade;, seguem os autores, liderados por Chris Cherian, pesquisador da Universidade de Rut-gers, nos Estados Unidos.
Tendão rompido
No trabalho, Cheriam e a equipe testaram a terapia em homem de 54 anos, que usava a cadeira de rodas havia 10 anos. O voluntário sofria dor crônica no ombro que não respondia ao tratamento conservador. Por meio de exames de ultrassonografia e ressonância magnética, detectou-se uma ruptura do tendão chamado manguito rotador, além de alterações degenerativas da articulação acromioclavicular.
Para resolver o problema, os cientistas usaram a própria gordura do participante ; que foi colhida e processada a fim de produzir uma amostra de tecido adiposo autólogo e fragmentado. O material criado foi, então, injetado na articulação do ombro do voluntário. A intervenção rendeu resultados positivos: o paciente experimentou alívio da dor e melhora na realização de atividades cotidianas.
Após 12 meses, o homem de 54 anos permaneceu livre de dor, avaliou que as melhorias funcionais foram mantidas e apresentou 50% de cura da ruptura do manguito rotador, benefício identificado em ressonância magnética. ;Acreditamos que opções de tratamento alternativas, como essa, podem oferecer a esses pacientes uma forma de acabar com a dor, mantendo a mobilidade e a independência funcional;, frisam os cientistas.