Um dia depois de a dura repressão do Exército e de esquadrões paramilitares ter deixado ao menos quatro mortes entre manifestantes de oposição, a junta militar que governa o Sudão anunciou ontem a detenção de integrantes das forças de segurança apontados como responsáveis pela violência contra um protesto no último dia 3, na capital, Cartum, com saldo de mais de dezenas de vítimas. Desde então, um comitê independente de médicos contabiliza 118 mortos e mais de 500 feridos na campanha de resistência ao Conselho Militar de Transição, que assumiu o comando do país após a queda do ditador Omar al-Bashir, em abril. A junta fala em 61 mortos.
Em comunicado divulgado pela agência oficial de notícias Suna, os generais no poder afirmam que foi aberta uma investigação para determinar responsabilidades pelas agressões contra manifestantes no domingo, primeiro dia de uma campanha de desobediência civil convocada pela oposição. A junta militar promete que os culpados serão ;prontamente punidos; pela Justiça.
A escalada da crise política levou o Departamento de Estado norte-americano a enviar para o país o diplomata encarregado do continente na diplomacia de Washington. O subsecretário de Estado para a África, Tibor Nagy, ;pedirá o fim dos ataques contra civis; e convocará ;os dois lados; a que trabalhem pela criação de ;um ambiente que permita retomar o diálogo;, diz o comunicado.
No segundo dia do movimento de desobediência civil, Cartum ficou sem conexão com a internet desde o início da tarde, afetando as comunicações de embaixadas, hotéis de luxo e escritórios. O ;apagão; digital, detectado também em outras cidades, despertou receios entre os líderes da oposição, que identificaram o mesmo problema em 3 de junho, quando as forças de segurança decidiram dispersar um acampamento montado pela oposição diante do quartel-general do Exército desde 11 de abril, quando o Conselho Militar de Transição anunciou a deposição de Bashir.
Os líderes da campanha, que prometem manter a desobediência civil até a transferência do poder para um presidente civil, denunciaram a presença ostensiva, nas ruas da capital, da milícia acusada de assassinar manifestantes na operação contra o acampamento. As Forças de Apoio Rápido (RSF, em inglês) são comandadas pelo general Mohamed Hamdan Daglo, conhecido como Hemeidti. Nas últimas duas semanas, os paramilitares foram vistos patrulhando bairros da capital e da cidade gêmea de Omdurman, além de Al-Obeid e Madani, ambas na região central do país. Exibindo metralhadoras na caçamba de utilitários, eles impedem a concentração de manifestantes e intimidam comerciantes para que mantenham abertos os estabelecimentos.