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Acordo é criticado

Oposição mexicana e ativistas afirmam que pacto com os EUA atropela a soberania nacional e criminaliza as pessoas que deixam seus países





O acordo de migração firmado entre o governo de Andrés Manuel López Obrador com os Estados Unidos foi criticado ontem por políticos da oposição mexicana e por defensores dos migrantes. Eles alegam que o pacto militariza a fronteira sul do país latino e passa por cima da soberania nacional. Na sexta-feira à noite, o México e Washington chegaram a um termo para suspender as tarifas que o presidente norte-americano, Donald Trump, ameaçava impor às exportações do vizinho, a partir de amanhã.

;Nesse acordo, os migrantes servem como moeda de troca. Estão criminalizando o fenômeno migratório. Vão militarizar a fronteira e prender mulheres e meninas;, disse à agência France Presse Luis Rey Villagrán, ativista que defende os direitos dos migrantes. ;É atropelar a soberania nacional;, acrescentou. Marko Cortés, líder do partido opositor PAN, também criticou o posicionamento da Guarda Nacional na fronteira sul. ;Parece que os presidentes usaram o medo de seu povo para chegar a um acordo. No México, o (medo) econômico e, nos Estados Unidos, o do migrante, em uma ação judicial, em que o governo mexicano foi forçado a cumprir a implantação de um muro militar no sul;, tuitou Cortés.

Ontem, Trump afirmou que o acordo funcionará se o vizinho cumprir sua parte para conter o fluxo migratório. ;O México se esforçará muito e, se fizer isso, esse será um acordo muito bem-sucedido tanto para os Estados Unidos quanto para o México!”, postou o presidente no Twitter. Ele anunciou que o México ;aceitou começar de imediato a comprar grandes quantidades de produtos agrícolas dos grandes agricultores patriotas (americanos);.

Também ontem, o secretário do Tesouro americano, Steven Mnuchin, comemorou o acordo. ;Não poderíamos estar mais satisfeitos com o acordo alcançado. É muito, muito importante e valorizamos o compromisso do México de nos ajudar em importantes temas migratórios;, declarou Mnuchin em Fukuoka, onde viajou para acompanhar a reunião do G20 financeiro. ;Em consequência, o presidente decidiu que não aplicaremos as tarifas aduaneiras;, completou o secretário, manifestando sua satisfação com esse ;resultado crucial;.

Negociações
O anúncio do acordo saiu ao final de três dias de negociações em Washington entre funcionários da administração Trump e do governo mexicano. Segundo o chanceler do México, Marcelo Ebrard, que liderou a delegação nos Estados Unidos, ;se obteve um equilíbrio justo; nas negociações. O governo de López Obrador aposta em promover o desenvolvimento na Guatemala, em Honduras e em El Salvador, origem da maioria dos emigrantes, para deter seu fluxo em direção aos Estados Unidos. Os emigrantes centro-americanos abandonam seus países, fugindo da falta de perspectiva econômica e da violência provocada por quadrilhas de criminosos.

Decidido a forçar o México a deter o crescente fluxo migratório em direção aos EUA, Trump havia anunciado na semana passada a adoção de tarifas sobre todos os produtos mexicanos. A partir de amanhã, os produtos seriam sobretaxados em 5%, com um aumento gradual mensal até chegar a 25%. A medida era potencialmente desastrosa para o México, que destina 80% de suas exportações aos EUA.