Um relatório do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) e da Organização Internacional para Migrações (OIM) divulgado ontem aponta uma disparada na emigração de venezuelanos, acompanhando a escalada na crise política nos últimos meses. Desde novembro passado, 1 milhão de cidadãos deixaram o país, um êxodo que elevou para 3,3 milhões o total de refugiados desde o fim de 2015 ; coincidindo com a queda de braço entre o presidente chavista, Nicolás Maduro, e a oposição. Em janeiro, depois de Maduro ser empossado para mais um mandato de seis anos, a Assembleia Nacional, de maioria oposicionista, proclamou como presidente interino o seu líder, Juan Guaidó, reconhecido como tal por mais de 50 países, inclusive o Brasil.
;O ritmo de saída (dos cidadãos) da Venezuela foi assombroso;, alerta o comunicado conjunto do Acnur e da OIM. ;Esses números alarmantes ressaltam a necessidade urgente de apoiar as comunidades que acolhem os refugiados;, resssaltou o ex-vice-presidente da Guatemala Eduardo Stein, representante especial das duas agências internacionais para a situação dos venezuelanos na emigração. A maior parte busca refúgio nos vizinhos sul-americanos, com destaque para a Colômbia, que já recebeu cerca de 1,3 milhão. Em seguida, de acordo com o relatório, aparecem Peru (768 mil), Chile (228 mil), Equador (263 mil), Argentina (130 mil) e Brasil (168 mil).
Na quinta-feira, alegando motivos de segurança, o governo peruano anunciou que passará a exigir dos venezuelanos recém-chegados , a partir da semana que vem, um ;visto humanitário;, além do passaporte. No mesmo dia, porém, as autoridades peruanas de fronteira começaram a deportar cidadãos venezuelanos recém-chegados que não atendiam aos requisitos em vigência para a imigração.
Em outro comunicado, também divulgado ontem, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) chamou a atenção para o quadro de emergência vivido pelas crianças venezuelanas em meio à aguda crise econômica e social que se soma ao impasse político no país. De acordo com um estudo do Unicef, 3,2 menores ; um a cada três na Venezuela ; depende de ajuda humanitária para sobreviver. O porta-voz Christophe Boulierac afirmou que a taxa de mortalidade entre crianças até 5 anos de idade mais do que dobrou ao longo desta década: a taxa saltou de 14 para cada mil indivíduos, em 2010 e 2011, para 31 por mil, em 2017.
Impasse
A crise humanitária na Venezuela se agrava acompanhando a escalada do impasse entre o governo chavista e a oposição, liderada por Guaidó. As partes ensaiaram na última semana um diálogo político na Noruega, mas ontem o presidente interino reiterou a exigência de que qualquer processo de entendimento tenha como ponto de partida a saída de Maduro do poder. Ele anunciou que informará a imprensa ;oportunamente; sobre a retomada de negociações.
;Se for esse o caso (uma nova reunião na Noruega), o que vamos querer? O fim da usurpação e eleições livres;, afirmou, recorrendo ao termo (usurpação) que usa invariavelmente para se referir ao governo de Maduro. ;Hoje, porém, não há nada em vista.;
Em Havana, foi o ;número dois; do governo chavista, Diosdado Cabello, quem manteve um ;encontro proveitoso e fraterno; com as autoridades cubanas, em especial com o chanceler Bruno Rodríguez. A agenda tinha no centro a preparação de um encontro do Fórum de São Paulo, articulação entre partidos e movimentos de esquerda latino-americanos, marcado para o fim de julho, em Caracas. ;Manifestei a solidariedade de Cuba (à Venezuela) e o compromisso de continuarmos apoiando os serviços sociais no país;, afirmou Rodríguez.
3,3
Total contabilizado de venezuelanos que deixaram o país desde 2015, segundo agências das Nações Unidas ilhões