Os sobreviventes estavam lá. Alguns em cadeiras de rodas, outros apoiados em muletas. Terno, quepe militar e medalhas no peito. Exatamente 75 anos depois, esses homens voltaram às praias da Normandia, no noroeste da França, para receber homenagens de líderes internacionais e para testemunhar afagos entre dois aliados que se estranhavam até pouco tempo atrás. Os presidentes Donald Trump (Estados Unidos) e Emmanuel Macron (França) trocaram elogios e exaltaram como heróis os veteranos que fizeram parte do desembarque de 156.177 soldados das forças aliadas durante o chamado ;Dia D; a bordo de 6.939 navios.
;Obrigado por sua amizade. Obrigado pelo que o seu país fez pelo meu país. E obrigado pelo que faremos juntos para ambos e para o resto do mundo;, declarou Macron. ;Nós sabemos o que devemos a vocês, veteranos: nossa liberdade. Em nome de nosso país, só quero dizer obrigado;, dirigiu-se aos veteranos, antes de condecorá-los com a Legião de Honra, no cemitério americano de Omaha Beach.
Diante de Trump, Macron sublinhou que ;a América nunca é tão grande quanto quando luta pela liberdade dos outros;. Ele instou o colega a ;nunca deixar de fazer viver a aliança dos povos livres;. Por sua vez, Trump fez um pronunciamento emotivo. ;A todos os nossos amigos e parceiros: nossa preciosa aliança foi forjada no calor da batalha, testada nas provações da guerra e provada nas bênçãos da paz. Nossa aliança é inquebrantável;, disse o magnata republicano, referindo-se aos franceses. As palavras do presidente dos EUA levaram muitos veterenos às lágrimas. ;Esses homens correram pelas chamas do inferno movidos por uma força que nenhuma arma poderia destruir: o feroz patriotismo de um povo livre, orgulhoso e soberano;, afirmou. ;Para mais de 170 veteranos da Segunda Guerra Mundial que se unem a nós hoje: ;Vocês estão entre os maiores americanos que jamais viverão. Vocês são o orgulho da nossa nação. Vocês são a glória de nossa república. Obrigado do fundo do coração.;
Trump lembrou que ;há 75 anos, nestas praias, nesses penhascos, 10 mil homens derramaram seu sangue e milhares sacrificaram suas vidas por seus irmãos, por seus pais e pela sobrevivência da liberdade;. Então, citou nominalmente alguns dos veteranos americanos. Em outro momento de união, ele e Macron caminharam entre 9.387 cruzes e estrelas de Davi, em Omaha Beach, onde repousam os restos mortais dos soldados aliados que participaram da primeira missão para libertar a Europa do jugo nazista. Os dois chefes de Estado também mantiveram uma reunião bilateral, durante a qual debateram as ;excepcionais; relações pessoais e comerciais de suas nações, e a crise nuclear do Irã.
Laços históricos
Diretor do Centro para Política e Governo Britânicos e do Departamento de História e Política do King;s College London, Andrew Blick admitiu ao Correio que os EUA e a França mantêm ;profundos laços históricos;. ;As origens dos Estados Unidos envolvem a colonização britânica. Os norte-americanos se rebelaram contra o Reino Unido em 1776; não muito tempo depois, a França teve sua própria revolução. Essa herança compartilhada é uma importante conexão entre os dois países. Além disso, a Estátua da Liberdade, presente da França para os EUA, é um símbolo importante dessa relação.;
Blick considera ;vital; o fato de o ;Dia D; ter sido bem-sucedido. ;Se desse errado, seria um grande retrocesso. A manutenção do apoio da opinião pública aos Estados Unidos durante uma guerra sempre foi desafiadora. Um fracasso teria sido um golpe para a moral, além de um problema militar;, reconheceu. Segundo o especialista, às vésperas do desembarque na Normandia, as forças do Eixo estavam perdendo a guerra. ;Montar uma invasão terrestre direta na Europa Ocidental era vital para obter a derrota final do nazismo. Desembarcar homens nas praias não foi uma tarefa fácil e envolveu muitas vítimas. Depois que as tropas se estabeleceram na costa francesa, foi possível sua interiorização.;
Além de Macron e de Trump, os primeiros-ministros Theresa May (Reino Unido) e Justin Trudeau (Canadá) comandaram cerimônias em Ver-sur-Mer e na praia de Juno Beach, respectivamente. Na véspera de oficializar a renúncia, May não fez qualquer alusão à saída do governo, e também elogiu a ;dedicação; e a ;coragem; dos 83 mil soldados britânicos e da Commonwealth. O presidente da Rússia, Vladimir Putin, desdenhou o fato de seu país não ter sido convidado para as celebrações. Ele disse ter ;negócios o bastante; em sua nação e alegou que o ;Dia D; não foi um ;divisor de águas;.
;A todos os nossos amigos e parceiros: nossa preciosa aliança foi forjada no calor da batalha. (...) Nossa aliança é inquebrantável;
Donald Trump, presidente dos EUA (acimaà direita, com Macron)