Novas críticas ao prefeito de Londres, Sadiq Khan; recusa em se encontrar com o líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn (oposição); apoio tácito à separação entre o Reino Unido e a União Europeia (UE), com direito a uma reunião com o populista Nigel Farage, chefe do Partido Brexit; conversa por telefone com o ex-ministro das Relações Exteriores Boris Johnson, potencial sucessor da demissionária premiê Theresa May; a promessa de um grande ; e polêmico ; acordo comercial com Londres. No segundo dia de visita ao Reino Unido, o presidente dos EUA, Donald Trump, parecia bastante à vontade, ao ponto de interferir na política britânica. ;Enquanto o Reino Unido faz os preparativos para deixar a UE, os EUA estão comprometidos com um fenomenal acordo comercial (entre os dois países). Há um tremendo potencial nesse acordo comercial. Eu diria, provavelmente, duas ou mesmo três vezes do que fazemos agora. Um tremendo potencial;, garantiu o norte-americano, que enfrentou vários protestos, inclusive com a presença do ;Baby Trump;, um imenso balão representando um bebê Trump laranja e de fralda.
O ponto destoante do acordo envolve a sugestão de Washington para que Londres autorize o setor privado a participar do NHS, o serviço público de saúde britânico. ;Tudo o que diz respeito a um acordo comercial está sobre a mesa. Quando você está pronto a lidar com o comércio, tudo está sobre a mesa. Então, o NHS ou qualquer outra coisa. Há muito mais do que isso, mas tudo estará sobre a mesa, absolutamente;, afirmou Trump. May interveio e frisou que ;o ponto sobre fechar acordos comerciais é que ambos os lados negociem e cheguem a um consenso sobre o que deve ou o que não deve constar naquele acordo do comercial para o futuro;. ;Senhor presidente, você e eu concordamos pela primeira vez que deveríamos nos focar em um acordo de livre-comércio ambicioso, quando o Reino Unido abandonar a União Europeia;, disse.
Nem de longe, Trump parecia o presidente revoltado ante as críticas de Theresa May por ele ter retuitado um vídeo islamofóbico. Em novembro de 2017, Trump enviou um conselho polêmico à primeira-ministra: ;Theresa May, não se concentre em mim, concentre-se no destrutivo terrorismo islâmico radical que ocorre no Reino Unido;. ;Primeira-ministra, é uma verdadeira honra. Eu gostei muito de trabalhar com você. Você é uma tremenda profissional, e uma pessoa que ama seu país carinhosamente;, declarou Trump à anfitriã, que renunciará na próxima sexta-feira, depois de fracassar em costurar o Brexit. O norte-americano tornou a criticar o prefeito de Londres, Sadiq Khan, ao alegar que ele faz um ;trabalho pobre; e é uma ;força negativa;.
Diretor do Departamento de História e Política do King;s College London, Andrew Blick comentou ao Correio que a incursão do NHS no acordo comercial será controverso. ;Isso implicaria que as empresas norte-americanas receberão o direito de assumir o controle de partes do sistema de saúde. O modelo NHS, que remonta à decáda de 1940, goza de amplo apoio da opinião pública. Partidos de todo o espectro político estão muito relutantes em serem vistos desafiando este modelo;, afirmou, ao comparar a interferência externa com uma espécie de privatização secreta do NHS.
Risco
Para Tim Bale, professor de política da Queen Mary University of London, qualquer acordo que inclua o NHS será ;muito complicado, caso vá longe demais; ; uma referência ao estímulo para a compra de mais medicamentos das farmacêuticas norte-americanas. ;Se houvesse mesmo um indício de introdução de um sistema de estilo americano no Reino Unido, qualquer acordo começaria morto: os eleitores nem sequer usariam o NHS;, disse.
Bale não se surpreende com o fato de o magnata republicano ter cortejado o líder do Partido Brexit e ignorado o trabalhista Jeremy Corbyn. ;Trump ama Farage porque ele o vê como um ;mini-eu; e deseja que o Reino Unido abandone a UE. Por que se importar com Corbyn, um esquerdista com o qual Trump não se preocupa?;, questionou o especialista. Blick, por sua vez, considera difícil analisar se um eventual endosso do norte-americano a Boris Johnson seria uma ajuda ou um obstáculo. De acordo com o estudioso do King;s College London, visitas como as de Trump envolvem muito mais simbolismo do que diplomacia pura, conduzida por pessoas de hierarquia inferior. ;O caos coreografado em ambos os lados ; Trump e os críticos que ele deliberadamente incita e que sempre mordem a isca ; nos diz algo sobre a natureza dividida da política, no Reino Unido e no âmbito global;, concluiu Blick.
Pressão sobre
o México
Durante a entrevista coletiva ao lado da premiê britânica, Theresa May, em 10 Downing Street, Donald Trump tornou a pressionar o México sobre a questão migratória e exigiu mais medidas para ;frear a invasão; de ilegais nos Estados Unidos. ;O México tem de fazer mais para frear este ataque, esta invasão ao nosso país;, afirmou.
O republicano destacou que o governo do presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, ;não deveria permitir que milhões de pessoas tentem entrar em nosso país e poderia deter isto muito rapidamente;. Trump se declarou convencido de que as autoridades mexicanas adotarão medidas, mas garantiu que seguirá adiante com a imposição de tarifas a todos os produtos mexicanos, começando por 5% a partir da próxima semana e aumentando gradualmente até 25%.
"Eu gostei muito de trabalhar com você. Você é uma tremenda profissional, e uma pessoa
que ama seu país carinhosamente;
Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, ao se dirigir à premiê britânica, Theresa May
Deslumbramento na Corte
Os filhos do presidente norte-americano, Donald Trump, não disfarçaram o entusiasmo em serem convidados de honra da rainha Elizabeth II. Pelo contrário, fizeram questão de utilizar as redes sociais para relatar a visita ao Palácio de Buckingham. No Instagram, Ivanka Trump publicou algumas fotos, entre elas uma em que aparece ao lado do marido, Jared Kushner, ambos sorridentes (E). ;Noite mágica no Palácio de Buckingham com meu melhor amigo!”, escreveu a loira, que tem 4,8 milhões de seguidores. O irmão, Donald Trump Jr. (D), também não escondeu o deslumbramento. Com a barba por fazer, apareceu no pátio da residência oficial da monarquia britânica. ;Que honra incrível ser convidado ao Palácio de Buckingham com Sua Majestade a Rainha e a incrível família real. Verdadeiramente uma experiência para uma vida inteira!”, afirmou.
Pontos de vista
Por Tim Bale
Desequilíbrio
nos detalhes
;Trump pode prometer tudo o que gostar: o diabo, como dizemos no Reino Unido, está nos detalhes. Qualquer acordo com Londres está fadado ao desequilíbrio ; como poderia ser qualquer coisa quando existem diferenças tão grandes entre a dimensão e o poder dos dois países. Se o Reino Unido deixar a União Europeia, estará desesperado para assinar qualquer coisa que dê esperança para persuadir os britânicos de que tomou a decisão certa.;
Professor de política da Queen Mary University of London
Por Andrew Blick
Negociações
complicadas
;Acordos levam anos para serem negociados; e eles exigem negociações políticas entre as partes. Trump provavelmente não está ciente dos detalhes e parece mais confortável fazendo grandes declarações para atrair atenção. Alguns diriam que ele é mais eficiente em produzir ruptura do que em entregar resultados. Até que ponto os negociadores serão capazes de um acordo aceitável é algo a ser visto.;
Diretor do Departamento de História e Política do King;s College London