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Eleição provoca rearranjo de forças em países da UE

Desprestigiada por décadas, a eleição europeia teve participação recorde e resultados capazes de reordenar a política de países do bloco. O desempenho de partidos governistas foi tão ruim em países como a Grécia que eleições nacionais foram antecipadas. Em casos como o da Itália, o resultado do governo foi tão bom que produziu boatos de uma nova votação nacional, para dar mais poder ao vice-premiê, Matteo Salvini. A Liga, partido de extrema direita liderado por Salvini, teve 34% dos votos na Itália, o dobro do Movimento 5 Estrelas (M5S), de Luigi di Maio, parceiro da coalizão formada no ano passado. Os dois, porém, nunca se entenderam e trataram a eleição europeia como um plebiscito para determinar o poder que cada partido teria entre o eleitorado italiano. Durante a campanha, Salvini sugeriu que poderia usar os resultados para consolidar seu poder dentro da coalizão ou romper a aliança com o M5S e forçar novas eleições. Ontem, o vice-premiê segurou suas cartas e elogiou o parceiro - que vinha criticando com frequência. "Meus aliados de governo são amigos. Meu oponente ainda é a esquerda", disse. A votação também derrubou o governo de extrema esquerda da Grécia. Alexis Tsipras, primeiro-ministro, anunciou que vai convocar eleições antecipadas em razão do desastre nas urnas - o Syriza, partido de Tsipras, obteve 24% dos votos, sendo derrotado pelos conservadores da Nova Democracia, que ficaram com 33%. No Reino Unido, o resultado das eleições europeias causou uma guerra de narrativas. O Partido do Brexit, do líder nacionalista Nigel Farrage, foi o mais votado com 31,6% dos votos. A vitória, segundo ele, dá um "mandato" aos eurocéticos para lutar por um Brexit sem acordo. "Nós exigimos um lugar na mesa de negociações, para preparar o país para sair da União Europeia de qualquer maneira." Os europeístas, no entanto, fizeram outra leitura dos resultados. Segundo eles, os defensores do Brexit, como Farage e o partido nacionalista Ukip, tiveram somados pouco mais de um terço dos votos, o que significa que os partidos que defendem a integração europeia seriam maioria. Os resultados ruins nas eleições afetaram também a estabilidade da coalizão da chanceler da Alemanha, Angela Merkel. Os partidos governistas reunidos - os conservadores CDU e CSU e o social-democrata SPD - obtiveram 45% dos votos, uma queda de 18,4% com relação a 2014. A estratégia de Annegret Kramp-Karrenbauer, sucessora de Merkel à frente da CDU, de apelar à direita para impedir o avanço da extrema direita desde dezembro, não funcionou. "A grande coalizão vacila após as eleições", afirmou ontem a revista Der Spiegel. "O governo está em perigo porque CDU e SPD foram punidos pelos eleitores e essa instabilidade pode levar ao colapso a qualquer momento." O único alento é que a Alternativa para a Alemanha (AfD), partido de extrema direita, teve 11% dos votos, mais do que os 7% de 2014, mas menos do que os 12,6% das legislativas de 2017. Quem herdou a maior parte dos votos dos insatisfeitos foi o Partido Verde, que se tornou o segundo mais votado da Alemanha, com 20,5%. O sucesso dos verdes se repetiu em outros países, como Portugal e Escandinávia, com alguns analistas enquadrando o fenômeno como uma "onda verde" de eleitores. As mudanças climáticas, o grande comparecimento de jovens e a insatisfação com os partidos tradicionais estariam por trás do crescimento, segundo especialistas. Ironicamente, em nenhum outro lugar da Europa é mais visível a dinâmica entre os dois grupos vencedores - verdes e nacionalistas - como na Bélgica, sede da UE. No norte do país, onde se fala holandês, os nacionalistas flamengos de extrema direita cresceram, enquanto na Valônia, onde se fala francês, e na capital Bruxelas, os verdes receberam uma votação histórica. A divisão deve tornar ainda mais difícil uma coalizão federal, o que poderia lançar os belgas em uma crise parecida com a de 2010, quando a Bélgica ficou 541 dias sem governo. (Com agências internacionais) As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.