O final do governo da primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, vai inaugurar uma fase ainda mais turbulenta na desfiliação britânica da União Europeia, o Brexit, já que qualquer líder novo provavelmente tentará fechar um acordo de separação mais duro e pode haver uma eleição dentro de nove meses. O país deve acabar saindo com um acordo de transição mais suave, sair abruptamente sem um acordo ou até mesmo permanecer na UE. Outro adiamento é provável.
Boris Johnson, o garoto-propaganda da campanha oficial do Brexit em 2016 e favorito das casas de apostas para suceder May, quer um rompimento mais radical do que o proposto pela premiê. Outros candidatos fortes ao cargo são Sajid Javid, Michael Gove e Jeremy Hunt. O líder do opositor Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, quer implantar uma série de políticas socialistas clássicas. Ele votou contra a filiação à UE em 1975, apoiou a permanência no bloco com relutância em 2016 e só demonstrou apoio morno a um novo referendo.
1) Brexit sem acordo
Quem quer que suceda May como líder do Partido Conservador quase certamente terá que exigir um acordo do Brexit mais duro de Bruxelas, embora a UE tenha dito e repetido que não retocará o Tratado de Retirada. Isso significa um confronto de algum tipo com o bloco antes da data de saída, agendada para 31 de outubro. Alguns ministros querem acelerar os preparativos de uma saída sem acordo para fortalecer a posição do futuro premiê.
Este cenário, temido pelos círculos econômicos, significaria uma saída sem transição. As relações entre o Reino Unido e a UE seriam então regidas pelas regras da Organização Internacional do Comércio, com o país abandonando do dia para noite o mercado único e a união aduaneira.
Este é o pesadelo de muitas grandes empresas: ao privar a quinta maior economia do mundo de muitos relacionamentos comerciais estrangeiros de um golpe, um Brexit sem acordo deslocaria cadeias de suprimento por toda a Europa e além. O impacto político e social é incerto, mas, julgando pelo comportamento passado, os mercados financeiros se assustariam e a libra esterlina cairia.
2) Nova eleição no Reino Unido
A próxima eleição nacional britânica só deve ocorrer em 2022, mas há duas possibilidades de ela ser adiantada:
- Dois terços dos 650 parlamentares votarem a favor;
- Uma moção de desconfiança no governo ser aprovada por uma maioria simples de parlamentares e nenhum partido conseguir a confiança da Câmara dos Comuns em 14 dias.
O desfecho de uma eleição seria imprevisível, já que os dois maiores partidos estão perdendo apoio para siglas menores, como o Partido do Brexit, de Nigel Farage, os Liberal Democratas, o Partido Nacionalista Escocês e os Verdes.
Um governo de maioria conservadora provavelmente adotaria uma ruptura mais decisiva com a UE; um governo de maioria trabalhista tentaria nacionalizar várias empresas estratégicas; ou pode haver um governo de minoria ou de coalizão.
3) Sem Brexit
A partida iminente de May reiniciará o debate nacional sobre como exatamente sair da UE, mas também dará tempo para os oponentes da saída pressionarem por um novo referendo ou até pela revogação do Artigo 50, a notificação da separação.
Após passar anos dizendo que se opõe a outro referendo, a última aposta de May foi acenar com uma possível segunda votação e arranjos comerciais mais estreitos com o bloco.
Uma rota para uma nova consulta popular é uma vitória trabalhista em uma eleição - embora Corbyn tenha falado vagamente de um "referendo de confirmação", seu partido definitivamente quer uma segunda votação.
Outra via é o Parlamento: em um vácuo de poder, os parlamentares poderiam simplesmente votar a favor de uma, embora a proposta não tenha conseguido maioria em votações anteriores.
4) Novo Acordo
Qualquer novo primeiro-ministro achará extremamente difícil negociar um acordo inteiramente novo com um bloco remanescente cuja população é sete vezes maior do que a britânica, especialmente depois de May passar dois anos negociando seu pacto.
A UE está disposta a retrabalhar a Declaração Política sobre os laços bilaterais após o Brexit, mas não o Tratado de Retirada - a parte do pacto que é de aplicação obrigatória e que contém um arranjo para o chamado 'backstop' da fronteira irlandesa que minou a proposta de May.
Bruxelas, contudo, já afirmou que o único acordo possível é o concluído com Theresa May. Para uma eventual renegociação, o Reino Unido poderia pedir à UE um novo adiamento, especialmente porque nem os parlamentares britânicos nem os europeus querem uma saída sem acordo.
Em abril, o presidente francês, Emmanuel Macron, desaconselhou uma prorrogação de um ano do Brexit dizendo ser arriscado demais para as instituições da UE, mas a chanceler alemã, Angela Merkel, vem tentando evitar um rompimento desordenado que certamente prejudicaria a economia europeia. (Com agências internacionais)