Jornal Correio Braziliense

Mundo

Dias contados para May

Às vésperas de uma derrota anunciada nas eleições de domingo para o parlamento continental, premiê britânica reapresenta proposta de acordo para a saída do bloco. Na próxima semana, adversários tentarão derrubá-la




A primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, foi ontem ao parlamento defender sua quarta proposta de acordo para a saída do país da União Europeia (UE) ; decisão aprovada em plebiscito, em 2016 ; sem maiores esperanças de reverter as três derrotas anteriores. O projeto, cujas linhas gerais tinham sido antecipadas na véspera, enfrenta resistência cerrada inclusive entre os adverdários internos de May no Partido Conservador, e parecia destinado a mais um fracasso. Dissidentes governistas e a oposição trabalhista parecem esperar apenas o anunciado fiasco dos grandes partidos na eleição de domingo para o Parlamento Europeu antes de entrar abertamente na discussão sobre o afastamento da premiê.

Se a situação de May já se deteriorava nas ultimas semanas, piorou com o anúncio de Andrea Leadsom, líder do governo na Câmara dos Comuns, de que deixará o cargo ; alegando como motivo principal a discordância incontornável com a política adotada pela chefe de governo para gerir o impasse do Brexit. ;Deixei de acreditar que a nossa estratégia atende aos resultados do referendo de 2016;, disse a política conservadora, em comunicado distribuído à imprensa.

;A oportunidade oferecida pelo Brexit é grande demais, e as consequências de seu fracasso são sérias demais para nos arriscarmos a mais atrasos;, discursou a premiê diante dos deputados. ;Rejeitar a proposta e tudo o que temos diante de nós será (favorecer a) divisão e estagnação;, acrescentou, sem muita convicção. Entre outros pontos que apresentou como concessões à oposição trabalhista, May destacou a abertura para que o parlamento convoque referendo sobre uma união aduaneira com a UE, solução intermediária que agrada os defensores do bloco, mas enfurece os entusiastas do Brexit, inclusive nas fileiras governistas.

Em reação imediata, o ex-ministro das Relações Exteriores Boris Johnson, candidato declarado a disputar com May a liderança do Partido Conservador ; posição cujo detentor se qualifica a exercer a chefia do governo ;, disparou a artilharia contra a nova proposta de acordo para o Brexit. ;Agora, ela pede que votemos por uma união alfandegária (com a UE) e um segundo referendo. O projeto de lei vai contra o nosso programa, não votarei nele;, escreveu no Twitter.

Embora tenha atendido a algumas reivindicações do Partido Trabalhista, a nova proposta parecia ontem não ter chegado a conquistar os votos da bancada opositora. ;É apenas um pouco mais do que uma versão ligeiramente melhorada do acordo rejeitado três vezes; na Câmara dos Comuns, disse em plenário o líder trabalhista, Jeremy Corbyn. ;Talvez a retórica tenha mudado, mas o acordo não mudou.;

Ambos os grandes partidos tradicionais do Reino Unido pareciam condenados a amargar maus resultados nas urnas, domingo, quando o país votará para renovar sua representação no Parlamento Europeu ; uma eleição que May tentou evitar até o último momento, já que o Brexit tem data marcada em 31 de outubro para ser efetivado. Determinada a contornar o impasse, a premiê planeja levar o projeto a votação antes do recesso parlamentar, em julho, para que os eurodeputados britânicos eleitos nem precisem tomar posse.

Com o Partido do Brexit liderando as intenções de voto no país para a eleição europeia de domingo, e os conservadores de May em um incômodo quinto lugar, a expectativa política em Londres é por uma ofensiva contra a premiê na semana que vem, antes que seu novo projeto para o Brexit seja ao menos debatido pelo parlamento. A própria premiê tinha oferecido discutir um prazo ; breve ; para a renúncia caso o acordo para o Brexit fosse aprovado pelos deputados na terceira tentativa (frustrada) de votação.

Ontem, até mesmo conservadores que deram o ;sim; à proposta no último debate antercipavam a decisão de votar contra o quarto texto de May para o Brexit. Paralelamente, seus adversários no partido sondavam as possibilidades legais de mudar as normas para a disputa da liderança no partido e, dessa maneira, forçar um desafio à premiê na bancada conservadora.


;A oportunidade oferecida pelo Brexit é grande demais, e as consequências de
seu fracasso são sérias demais para nos arriscarmos a mais atrasos;

Andrea Leadsom, ao renunciar como líder do governo na Câmara dos Comuns


;O projeto de lei vai contra o nosso programa, não votarei nele;
Boris Johnson, ex-chanceler e rival da premiê no Partido Conservador