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Fake news na boca da urna

Às vésperas do início das eleições para o parlamento continental, dirigentes do bloco se mobilizam contra a maniupulação de informações nas redes - e sugerem que a Rússia pode estar por trás das tentativas de influir no resultado da votação




Passados pouco mais de dois anos da eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, sob suspeita de uma consistente intervenção cibernética da Rússia, inclusive com o uso maciço de notícias falsas ; as fake news ;, as autoridades da União Europeia (UE) temem que o mesmo esquema tumultue a reta final da campanha para as eleições do Parlamento Europeu, a partir de amanhã, nos 28 países-membros. Às vésperas do pleito, a UE busca coordenar as iniciativas dos governos nacionais e aumenta a pressão sobre as redes sociais, como Facebook ou Twitter, principais vetores da desinformação.

;Existem forças externas antieuropeias que tentam influir nas decisões democráticas dos europeus;, alertou o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, preocupado com eventuais ;ingerências;, sem mencionar suspeitos nominalmente. Outros dirigentes, porém, identificam sem rodeios o Kremlin como líder da tentativa de manipular a opinião pública com a distribuição de notícias falsas. É o caso de Andrus Ansip, vice-presidente da Comissão Europeia (CE, braço executivo do bloco), para quem ;existem provas; da ação de Moscou.

Desde as migrações até a corrupção das elites, passando por todo tipo de complôs, a desinformação tem seus temas favoritos ; quase sempre, acompanhando os movimentos chamados populistas ou de extrema-direita. As notícias falsas aproveitam a rapidez na distribuição e o sucesso na internet dos conteúdos sensacionalistas, assim como a desconfiança reinante em relação às instituições e à imprensa, uma ;praga invisível;, nas palavras da comissária Mariya Gabriel. Encarregada na CE da pasta de Economia Digital, ela escreveu em um recente relatório que a difusão de mentiras ;se mistura na vida de nossos cidadãos e influencia nossas opiniões e decisões;.

No esforço de coordenar as ações para proteger as eleições do Parlamento Europeu, que serão realizadas entre amanhã e domingo, a CE fixou algumas linhas de atuação e pediu apoio às empresas jornalísticas que considera idôneas, na forma da verificação sistemática dos dados e das notícias que circulam nas redes. Em março, o comando da UE lançou um ;sistema de alerta rápido; para que os países compartilhem ;em tempo real; as informações de que disponham sobre ;tentativas coordenadas de atores estrangeiros para manipular; o debate democrático.

Em Bruxelas, a diplomacia europeia, por meio do Serviço Europeu de Ação Exterior (Seae), foi à luta com uma equipe de 15 funcionários encarregados de detectar e analisar as campanhas de desinformação contra o bloco. O site euvsdisinfo.eu afirma ter desmascarado mais de 5 mil falsas notícias, vinculadas principalmente à Rússia, mas os meios dessa unidade são modestos, e seu enfoque levanta dúvidas.

Em um estudo recente sobre a ;guerra da informação;, Paul Butcher, do centro de reflexão European Policy Center, afirma que ;dar um papel de destaque ao Seae ou aos serviços de segurança dos governos pode ser contraproducente;. Isso pode, na opinião do especialista, alimentar a ideia ;de censura ou de guerra cultural entre o ;establishment; e o ;povo;; ; justamente um dos motores das fake news, assinala Butcher, que defende a participação da sociedade civil, das ONGs e do setor privado.

Nos últimos meses, as autoridades destacaram a responsabilidade das redes sociais, como Facebook ou Twitter. A colaboração poderia vir na forma de leis, como na França, ou de um ;código de boas práticas;, como o lançado em 2018 pela CE. ;De forma voluntária, a indústria se compromete com uma ampla gama de medidas, que vão desde a transparência na publicidade política até o bloqueio de contas falsas;, explica Mariya Gabriel, que comemorou a ;atenção mundial; dispensada ao tema.

A iniciativa, que também implica reduzir as ações de desinformação, produziu alguns resultados, mas continua longe do objetivo, segundo o último informe, publicado em março pelo Executivo da UE. ;A Europa está em chamas e as plataformas sociais trazem pistolas d;água para combater o fogo;, lamenta a organização Avaaz, que pede a Bruxelas a adoção de medidas vinculantes, e não apenas de um marco voluntário.


;Existem forças externas antieuropeias que tentam influir nas decisões democráticas dos europeus;
Donald Tusk,presidente do Conselho Europeu